October 26, 2022

e se...?

 

(...) e se a tecnologia e a IA em particular, não forem erros a recalibrar por um pensamento claro? E se o impulso interior, não confesso, da tecnologia moderna tiver as suas raízes no que Kant chamou "o conflito nas disposições naturais do humano"? E se for este o principal meio pelo qual o conflito se desenrola na nossa era?

Em vez de concluir de uma maneira fácil com uma série de perguntas orientadoras, deixem-me antes afirmar que nem a humanidade nem a tecnologia se vão submeter às reivindicações de racionalidade ou aos ditames da percepção moral. Há algo no ser humano que o detesta e procura activamente ultrapassá-lo, se não extirpá-lo. Seja o que for que esse algo seja, não se pode raciocinar com ele. É preciso atraí-lo para fora do seu esconderijo e confrontá-lo nos seus próprios termos psicóticos. O estabelecimento de normas de acção não nos ajudará a ultrapassar a insanidade da nossa espécie. Essa insanidade já colonizou, de muitas maneiras, a nossa racionalidade. O que é necessário é uma psicologia sombria do próprio processo de actuação. Não podemos fazer avançar a nossa humanidade, a menos que primeiro se traga à luz a raiva insurrecional contra a morte e a finitude que agita as profundezas da psique humana.

Robert Pogue Harrison on Markus Gabriel’s “The Meaning of Thought”

No comments:

Post a Comment