September 14, 2022

Os nossos governos podiam estar naqueles programas da TV russa

 


Programas de alucinados. Acreditam que quanto pior tratam os profissionais, quanto mais lhes destroem as carreiras e quanto pior lhes pagam, mais eles trabalham com afinco e amor. É do género: vão lá trabalhar como se ganhassem o salário de um administrador público, mas com o salário de motorista do ministro. Sobretudo se têm ali mesmo ao lado um privado que lhes queira pagar de acordo com o que estudam e fazem. É um nível de alucinação digno da TV russa. 
Ontem, à conversa com uma colega cujo filho foi meu aluno e é um médico intensivista, ela dizia-me que ele está no 2º ano do internato, que são seis anos. Isto depois do curso que foram cinco anos. Portanto, onze anos, ao todo. Trabalha num hospital público em Lisboa. A falta de pessoal é tanta que de vez em quando atiram para cima dele -e de outros como ele- responsabilidades que não correspondem ao ano de internato em que está. Ora, o que o espera, segundo os nosso governos, é uma carreira quase horizontal. Hoje ganha x e daqui a 30 anos ganha o mesmo x mais 300 euros. Depois admiram-se que os médicos se tornam tarefeiros paralelos. 
É claro que o especialista em petanca ou o que forjou um curso que nunca tirou e que entretanto foram nomeados administradores hospitalares levam para casa logo à cabeça três ou quatro salários, mais as prebendas do cargo. Mas são gente do partido e isso é que importa.
Ontem o primeiro-ministro dizia, a quem o criticava pela escolha partidária do ministro da saúde, 'mas devia ir buscar um adversário do PS?' Cá está... não percebe o que está em causa porque divide os portugueses em: são do PS ou são adversários do PS. Tinha de ir buscar, não um devoto do PS, mas um devoto do serviço ao país. Alguém competente e que perceba que trabalha para fazer avançar a saúde do país e não para fazer avançar o eleitorado do PS. Ora, tendo ido buscar um devoto socrático, mostrou o que são as suas prioridades.


Salários da Função Pública perdem 14% de poder de compra desde a Troika

Com uma inflação de 7,4% este ano e aumentos de 2% em 2023, os salários reais voltam a sofrer uma baixa.

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Na entrevista desta segunda à noite, primeiro-ministro não quis comentar dois recibos de vencimento de dois médicos do SNS, que pretendiam mostrar diferenças salariais. Ei-los neste artigo.

Dois médicos do SNS, ambos trabalham apenas para o Estado. Um é pai e a outra é filha: ele leva para casa mais €336 ao fim do mês do que ela, mesmo se ele é especialista com 30 anos de carreira e ela é interna do primeiro ano.

O caso foi mostrado pela CNN Portugal e TVI ao primeiro-ministro, na entrevista desta segunda-feira à noite, como exemplo do que ganham médicos com muitos anos de carreira face a outros que estão no início – e como eles comparam com os salários pagos no privado.

Em causa está a falta de médicos no SNS e o êxodo do Estado para o privado.

Depois de um mês de agosto com problemas nas urgências obstétricas – alguns com consequências letais - e do alerta da DGS de que vão faltar médicos no inverno, o coordenador da Comissão de Acompanhamento das Urgências de Ginecologia/Obstetrícia e Bloco de Partos, Diogo Ayres de Campos, já explicou a provável necessidade de fechar de forma definitivaalgumas maternidades e disse que o atual número de especialistas e internos “é bastante confrangedor”, com tendência para “piorar com saídas ainda maiores de médicos especialistas do SNS”, sobretudo para os hospitais privados, defendendo a necessidade de concentrar recursos e fazer aumentos salariais para especialistas e internos.

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