Esta rainha que morreu, por exemplo, que é agora lembrada com muito carinho, foi sempre objecto de respeito, mas nem sempre foi amada. Foi-o no início do reinado, quando assumiu o cargo muito nova e em circunstâncias muito difíceis, mas depois veio a época das transformações dos anos 60 e 70 e pareceu estar desfasada dos tempos. Falava-se dela como distante. Em seguida vieram os anos dos casamentos dos filhos mais velhos e toda a confusão que se seguiu e era muito criticada como sendo fria e distante, os filhos uns mimados snobs. Começaram a chamar à casa real, 'a firma'. Falava-se abertamente em a rainha abdicar para o neto. As sondagens diziam que os ingleses estavam fartos dos gastos e caprichos da monarquia. Finalmente, vieram os seus oitenta anos e o valor da sua dedicação, lealdade e estabilidade venceram e começou a ser novamente amada.
Se a rainha tivesse morrido com 70 anos as possibilidades da monarquia sobreviver não eram fortes. Teria morrido em plena crise e polémica, não apenas sua mas do filho que agora é rei, por conta da ex-mulher e da actual mulher. Carlos precisou destes anos todos para se tornar uma pessoa sensata e consensual.
Portanto, a rainha foi sempre uma pessoa que impôs respeito, mas não afecto.
O grande valor dela foi a dedicação. Os ingleses, mesmo os que não são monárquicos, sabiam e sentiam que nela tinham alguém que nunca voltaria as costas ao país, nunca desistiria ou desertaria, como fez o tio dela e, mais recentemente, um dos netos.
Esse tipo de dignidade e fortaleza de carácter é que que faz com que no mundo inteiro a respeitem. É uma pessoa, uma líder que está no seu posto, sempre ao serviço e sem auto-indulgências.
É claro que um monarca que vive muito tempo, tem muita experiência acumulada de conhecer governantes do seu país e de outros, tem um conhecimento da história do país e das sensibilidades dos vários sectores do povo e, por isso, é um conselheiro de valor inestimável. Tem uma perspectiva não politicamente interessada, objectiva e contextualizada no tempo e na história dos assuntos do Estado. Essa é a parte do valor. A parte da sorte tem que ver com as pessoas que a rodeiam, a família (veja-se como a família do rei de Espanha quase acabou com a monarquia em meia dúzia de anos e a deixou numa situação de grande desequilíbrio) e os acontecimentos do tempo.
Tropecei numas tuitadas de uma jornalista brasileira, Cecília Oliveira, que está indignada (o termo que usa é outro) com a comoção generalizada pela morte de Isabel II, porque a considera escavocrata, racista, etc., e vê na imagem que se passa dela revisionismo.
ReplyDeleteUma ignorante qualquer, prima do Bolsonaro ou do Lula... hoje em dia diz-se qualquer parvoºice pela boca fora sem se dar ao trabalho de ler uma linha sequer da história - a rainha Isabel nunca foi racista. Foi uma promotora da da Commonwealth e amiga pessoal de muitas pessoas (líderes e não líderes) desses países, de todas as raças. De resto, a Inglaterra aboliu totalmente a escravatura ainda no tempo da rainha Vitória. Antes de nós que dissemos que abolimos mas criámos uma excepção para enviar escravos para o Brasil. (É daí que vem a nossa expressão, 'para inglês ver' - arranjámos um esquema para os ingleses não perceberem que continuávamos a mercadejar escravos)
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