September 29, 2022

Filmes - Crimes do Futuro

 

Este é um filme de Cronenberg para um certo gosto que não é o meu. O Cronenberg tem filmes que gosto imenso como Eastern Promisses ou A Dangerous Method, outros que gosto mas metem-me nojo como, «A Mosca» e outros, como este, que não gosto mesmo. Este filme passa-se num futuro em que já não há ambiente natural para salvar. Não se vê, em todo o filme, uma árvore, um campo com erva, uma flor. As pessoas só saem ao entardecer ou à noite por causa do sol. Nesse futuro, o corpo humano sofreu mutações devido aos problemas ambientais. Logo na primeira cena do filme vê-se um miúdo (a única criança que aparece no filme) a enfiar-se na casa de banho e a ir ao caixote do lixo comer o plástico com uma sofreguidão de viciado. A mãe mata-o nessa noite depois de ver aquilo. O corpo humano desorganizou-se, parece ter saído do caminho evolutivo e crescem orgãos estranhos às pessoas, dentro e para fora do corpo. Podem ter orelhas no topo do crânio, por exemplo. Existe o medo que esses crescimentos anormais se transmitam geneticamente aos filhos e façam degenerar a evolução. Já não havendo ambiente para salvar, tentam salvar a humanidade do ser humano controlando o crescimento caótico de orgãos do corpo humano, isto é, controlando a evolução.

Nesse futuro, o ser humano perdeu a capacidade de sentir dor física, como se uma apatia se tivesse instalado nos genes, de maneira que não tem nenhum 'aviso' de que algo corre mal no corpo. A transformação do corpo tornou-se numa arte performativa. As personagens principais do filme são um homem a quem crescem tumores desordenadamente e a sua parceira artística, uma cirurgiã que abandona o hospital para se tornar artista com o corpo dele. Então faz-lhe cirurgias públicas e artísticas. É preciso estômago para ver isto porque a câmara demora-se muito tempo nestas cirurgias que têm uma parte de horror e outra de erotismo: vemos tubos a entrar no corpo, facas a abrir o corpo, os orgãos a ser removidos, olhos e boca a serem cozidos como nos livros de Sade, mas tudo muito cru e ambivalente. Não tem nada que ver com um ambiente hospitalar, não. É um ambiente de voyeurismo erótico.

 Chiça... enfim, não é o tipo de filme que me entusiasme ou que queira ver uma segunda vez, mas percebo que é o tipo de filme para ter fãs. O filme é só bons actores, alguns dos quais trabalham muito com ele, como Viggo Mortensen.


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