Não entendo estas pessoas que propõem, usando a opinião de outros, uma paz que amordace a Ucrânia e lhe retire um terço do território para a gestão indirecta (ou directa) da Rússia, tudo para não ofender Putin, um fascista imperialista corrupto até à medula. E alegam que ceder a Putin a acabar com as sanções é uma questão de humanismo e racionalidade.
Das duas uma, ou não percebem que estabelecer na Ucrânia uma pax podre segundo a vontade de Putin é abrir a porta para que ele vá invadir outros países do Báltico à procura de outras pax podres - e servir de modelo para outros países imperialistas atacarem pequenos países fronteiriços que cobiçam; ou percebem mas não querem saber porque, afinal, vivia-se aqui muito bem no Ocidente durante a guerra fria quando a Rússia estrangulava os povos de leste. Nem a primeira nem a segunda hipótese abonam a favor de uma pessoa que ocupa um cargo de importância no panorama cultural, económico e, por isso, político, do país. São os 'líderes' e as 'elites' que temos. Daí o estado a que chegámos. (este senhor com esta ideia de humanismo foi ministro da educação de Guterres)
Poderemos escapar a esta lógica infernal e a este arrastamento para o abismo? Edgar Morin fala duma paz de compromisso que instaure e garanta a neutralidade ucraniana, para prevenção da independência e primado do direito. As regiões russófonas e a Crimeia deveriam obter regimes especiais. As condições dum compromisso são tão claras quanto os bloqueios. A radicalização e amplificação da guerra impede a lucidez. A situação geopolítica da Ucrânia e a sua riqueza económica em trigo, aço, carvão, metais raros atraem os grandes predadores e as grandes potências. A Ucrânia é vítima da Rússia, do agravamento das tensões leste-oeste, da Chechénia e da Geórgia, do médio oriente em geral. O objetivo da Ucrânia deveria ser libertar-se da invasão russa e da armadilha da nova guerra fria. Também a União Europeia necessita de se ver livre desta camisa-de-forças. Uma crise económica gerada por sanções e seu reflexo gerará regressões autoritárias e sociedades submetidas. O humanismo e a racionalidade obrigam à cabeça fria do compromisso, que não salvará a humanidade, mas pelo menos poderemos ganhar com trégua e com esperança.
Guilherme d'Oliveira Martins - Administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian
Guilherme d'Oliveira Martins é uma mente esclarecida como poucas em Portugal. Mas o mundo - o inteiro mundo - não está virado para a razão que cria esperança. Uns, querem o poder; outros, que não os chateiem.
ReplyDeleteAi é esclarecido? Bem, aqui não se nota.
ReplyDelete'uns querem o poder': Putin; 'outros que não os chateiam': este senhor em causa, os alemães putinistas; os franceses putinistas, etc.