August 30, 2022

Um artigo a desvalorizar a responsabilidade da estrutura eclesiástica na pedofilia

 


Será-do-celibato
Julie Machado  - Mestre em Teologia

O termo “padre pedófilo” é usado não só para incitar um certo pânico moral contra o clero católico, mas para indicar que este grupo tem um risco acrescido deste tipo de crime. Na verdade, não existe nenhuma evidência de que padres cometam mais este crime do que outros homens.
(...)
Não está demonstrado que o celibato crie perturbações mentais das mais graves onde não existiam antes. Um mau padre, ou um que cometa estes crimes horripilantes, realmente é do pior que pode existir na Terra, pois tinha mais responsabilidade. Mas os restantes 98% bons, com este estilo de vida celibatário, fazem com que cada um se questione, e pense na sua vida ética e sexual. Mais do que perigoso e a evitar, o celibato pode na verdade ser uma das melhores armas contra a pedofilia.

--------------

A autora deste artigo apresenta-se como especialista em teologia mas fala como se fosse especialista em sexualidade. 
Alega que o celibato não tem nada que ver com a pedofilia, mas conclui que o celibato é a melhor arma contra a pedofilia: afinal tem alguma coisa que ver com pedofilia ou não?

Alega que "não existe nenhuma evidência de que padres cometam mais este crime do que outros homens", passando por cima do facto de que a igreja escondeu e esconde os casos e não dá informações sobre o assunto, a não ser em algumas partes de alguns países e muito recentemente e esquecendo que sabemos que neste casos as vítimas que falam são uma pequena minoria, de maneira que não há dados para se poder tirar conclusões num sentido ou noutro.

Conclui dizendo:
Não está demonstrado que o celibato crie perturbações mentais das mais graves onde não existiam antes - ora, a pedofilia não é uma perturbação das mais graves, embora as suas consequência o sejam. A gravidade da doença mental é aferida em relação ao próprio doente (segundo o grau em que incapacita a sua vida) e refere-se a doenças como esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão grave, autismo profundo, psicoses. 
Sabemos duas coisas: a primeira é que as pessoas com tendências pedófilas procuram trabalhos que lhes dêem acesso a crianças; a segunda é que, pessoas com propensão para a doença mental pioram, quer dizer, reforçam as suas tendências quando vivem em ambientes pouco saudáveis e desequilibrados como é o ambiente clerical. 
As descrições que existem da psicologia dizem-nos que uma grande maioria destes padres  entram nos seminários numa idade precoce  antes de atingirem a maturidade psicossexual. Tomam a decisão do celibato, que será uma disciplina adequada para alguns, mas não para o comum das pessoas, sem uma noção realista da vida devido à sua imaturidade emocional.
Estão num meio onde experimentam "a impotência de viverem dentro de uma cultura estruturada, rígida e autocrática de homens, na qual que não têm poder e não são tratados como adultos plenamente desenvolvidos. "Geralmente", observa a Dra. Leslie Lothstein, Directora de Psicologia do Instituto de Vida, "a ecologia social da formação dos seminaristas católicos isola-os das mulheres, pelo que têm uma sociedade só de homens, com uma estrutura hierárquica muito profunda, na qual as pessoas no topo partilham traços de invencibilidade, invulnerabilidade, omnipotência, omnisciência".
A comparação que a autora do artigo faz da decisão de uma vida de celibato à decisão de uma dieta rigorosa não tem sentido nenhum pois uma dieta, por muito rigorosa que seja, não nega uma pulsão vital como faz o celibato. Na realidade, se a pessoa deixasse inteiramente de comer e beber, morria.

Um mau padre, ou um que cometa estes crimes horripilantes, realmente é do pior que pode existir na Terra, pois tinha mais responsabilidade. A autora do artigo não percebe ou finge não perceber que, mesmo que o número de padres pedófilos seja idêntico ao de outros homens, o que a história tem mostrado é que na igreja há uma política concertada ao nível de todas as cúpulas eclesiásticas para mentir, ocultar, desresponsabilizar os criminosos e desvalorizar o crime, ao ponto de mudarem os padres pedófilos de paróquia sabendo que vão alimentar-se de novos seres humanos indefesos. Isto passa-se no mundo inteiro, o que mostra ser uma cultura da instituição e não um defeito de meia dúzia de padres. O anterior Papa foi cúmplice de encobrimentos. Portanto, é a própria instituição e não apenas alguns dos seus homens que está envolvida na pedofilia, senão como praticamente, como facilitadora.

Mas os restantes 98% bons, com este estilo de vida celibatário, fazem com que cada um se questione, e pense na sua vida ética e sexual. A conclusão segundo a qual um padre celibatário pensa mais que as outras pessoas na sua vida ética e sexual é uma afirmação gratuita, desprovida de fundamento. Não conheço ninguém que não pense na sua vida ética e sexual. Se isso fosse verdade, o caso da culpa da igreja ainda seria pior, pois com tanto pensamento ético superior, como explicariam a sistematização da mentira, encobrimento e facilitação da pedofilia no seu interior? Teriam de admitir uma falha muito grave na própria estrutura.

A igreja católica tem muito poder neste país. Não há jornal nenhum que não tenha, pelo menos um padre cronista. Todos a desvalorizarem a responsabilidade da igreja na pedofilia. E outros defensores, com esta teóloga. Vítimas de pedofilia e outros abusos é que nunca vejo nos jornais. A voz é dada ao abusador e nunca ao abusado.

No comments:

Post a Comment