E não há esperança que mude, pelo menos em Portugal, porque os discursos são os mesmos de há 20 anos. Ainda há uns dias li uma crónica no JN assinada, Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde e professor universitário, em que preconizava adoptar algumas medidas enunciadas por Macron:
"(...) focalização integral da escola nos alunos, razão de ser da sua existência. [a velha lengalenga ignorante, ofensiva e acusatória de que o problema da escola são os professores que estão centrados em si e não querem saber dos alunos]
(...) anunciar um conjunto de medidas concretas, entre as quais a criação, no imediato, de um "Conselho Nacional para a Refundação da Escola", para proceder à mudança de métodos, [a velha lengalenga ignorante, ofensiva e acusatória de que o problema da escola são os professores que têm métodos errados ou nem os têm]
(...) repensar a formação dos professores, [a velha lengalenga ignorante, ofensiva e acusatória de que o problema da escola são os professores não terem formação]
(...) a criação de um pacto da escola, do Estado e dos docentes, e a criação de um fundo, financeira e estruturalmente robusto, de inovação pedagógica. [a velha lengalenga ignorante, ofensiva e acusatória de que o problema da escola são os professores não terem pedagogia]
Estão a ver o problema? Os «líderes» que querem melhorar a escola têm profundamente enraizado em si que o problema da escola está em os professores serem maus, egoístas, atrasados, sem métodos, etc, e não se coíbem de o dizerem diariamente nos jornais e em todo o lado. Isto revolta e quando se lê estas bronquidades todos os dias... ainda irrita mais. Não assumem responsabilidade nenhuma pelas políticas desastrosas com agendas economicistas e o único diagnóstico que têm é: a culpa é dos professores.
Agora alguém nos diga: depois de lermos todos os dias políticos, professores universitários e jornalistas chamar-nos estúpidos, atrasados, egoístas, faltistas, ignorantes e etc., ao mesmo tempo que nos roubam direitos, salário, apagam o tempo de trabalho, o direito a ter pausas no trabalho, oprimem com controlo, retiram autonomia, etc, depois disto tudo, vêm dizer o quê...? Vá, vão lá trabalhar e fazer mais com menos, cheios de amor à profissão?
Em 2020 um articulista do Público defendia que os professores deviam dar a vida pelos alunos. Mas estas pessoas não se medem? Ainda hoje ouvi que um ministro recebe subsídio de alojamento por viver a mais de 150km do trabalho, a somar ao carro, motorista, despesas de combustível e portagem. Não acho mal, mas pergunto: e os professores que vivem a mais de 150 km do trabalho? Não somos gente, somos lixo... portanto, sim, os professores são uma classe tão vilipendiada que ninguém, na Europa (e não só) quer ser professor.
Deus nos livre destes professores universitários que pensam serem os ungidos que vêem ensinar aos professores das escolas como se preparar uma aula, como se trabalha com os alunos, como se prepara para exame e o que é a pedagogia, que pensam que os mais de cem mil professores das escolas são todos egoístas, burros e ignorantes que não fazem formações e que devem ouvi-los a eles como os discípulos ouviram Jesus Cristo. Como é o caso do ministro que ocupa a cadeira do ME neste momento. Um catequista que pensa que somos o seu rebanho.
Pois, eu cá não sou cão de levar pancada nem ovelha de ninguém.
Vão-se todos encher de pulgas. Aqui a minha pessoa, tendo acabado o curso nos dias de hoje, nunca iria ser professora: ficar doente, ganhar uma miséria e ter que aturar estas conversas paternalistas.
De volta à escola: vizinhos europeus atingidos (também) pela falta de professores
Poucos países da União Europeia têm sido poupados à falta de professores. Os salários podem ser um factor, mas essa não é a única explicação.
Antoine Beau
Pap Ndiaye garante que não é só em França que os professores estão em falta. Na Itália, Alemanha, Reino Unido... É cada vez mais difícil garantir "um professor em cada sala de aula", o cavalo de batalha do Ministro da Educação francês, na véspera do início do novo ano lectivo. A "profissão mais bela do mundo", como Pap Ndiaye lhe chama, está "a perder a sua atractividade" em quase toda a Europa.
Publicado a 9 de Junho, um relatório do Senado estimava que 26.000 vagas teriam de ser preenchidas no sistema escolar primário alemão até 2025, enquanto a Suécia já estava a lutar para recrutar 77.000 professores este ano, antes do início do ano lectivo. Em Itália, 150.000 postos seriam preenchidos por substitutos. Em França, 4.000 posições ficaram por preencher no concurso deste ano. Apenas a Finlândia e a comunidade germanófona da Bélgica se consideram poupados.
"Todos os países europeus (...) enfrentam dificuldades crescentes no recrutamento de professores, apontando para uma verdadeira 'crise de atractividade' europeia na profissão docente", concluiu o relatório, dirigido por Gérard Longuet, um senador francês da região de Meuse. Os salários, considerados demasiado baixos em muitos países, são parcialmente responsáveis pela desvinculação. Especialmente em França, onde são até 15% mais baixos do que a média da OCDE, dependendo da antiguidade.
Revalorizar os salários?
Armado desta conclusão, o executivo francês apela a "actualizações significativas", especialmente no início da carreira para apoiar o fluxo de candidatos ao concurso de ensino secundário, que secou 30% entre 2008 e 2022. E para tapar a fuga: o número de professores que se demitem, "longe de ser um fenómeno cíclico", aumentou 528% desde 2008, relata o Senado.
No entanto, o pagamento por si só não explica a falta de interesse, especialmente a uma escala europeia. Os países altamente remunerados em termos de ensino não escaparam à crise.
Os governos responderam de muitas maneiras, e vão muito além da utilização massiva de pessoal contratual. Em Inglaterra, o Departamento de Educação está a tentar orientar os professores para áreas e disciplinas que estão a ser evitadas, oferecendo bónus e benefícios. Outros países facilitam o recrutamento, tais como a República Checa e a Itália, onde as disparidades regionais são também muito grandes. A Noruega tem encorajado a colaboração entre professores, presidentes de câmara e autoridades municipais. Quanto à Finlândia, o Ministério fornece formação regular e dá maior reconhecimento às iniciativas do que em França.
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