Não percebo isto da escusa de responsabilidade

Quer dizer, eu percebo porque o fazem, é por não terem as condições consideradas necessárias para um trabalho de qualidade mínima, mas isso é válido para todos. Para enfermeiros, para médicos, para engenheiros que constroem uma ponte; para polícias que fazem o trabalho de dez agentes ao mesmo tempo; para maquinistas de comboio que conduzem em linhas que estão a desfazer-se; para pilotos de aviação que fazem turnos do dobro do tempo que é recomendável... etc.

Veja-se o caso dos professores, podiam pedir escusa de responsabilidade por: terem 7 turmas x 30 alunos; ficarem com as turmas que estão sem professor adicionadas às suas; gastarem o tempo de trabalho em burocracias e trabalho administrativo para que se poupe contratações de pessoal de secretaria; viverem a 200 ou 300 km do trabalho sem nenhuma ajuda e andar sempre estourado e mal dormido; os alunos estarem num nível de conhecimentos e atitudes muito abaixo das metas do seu escalão; terem pais que fazem o oposto do que se lhes recomenda e pede; terem uma tutela que põe obstáculos no seu trabalho, etc. Como é que é possível um trabalho de qualidade nestas péssimas condições? 

Dir-se-à que isso não põe em risco a vida dos alunos como a falta de condições e de pessoal num hospital o faz. Bem, isso não é verdade para algumas das profissões citadas que podem pôr em risco a vida de centenas de pessoas de uma só vez. E mesmo no caso dos professores, não pondo em risco a vida imediata dos alunos, hipoteca as suas possibilidades de futuros - deles e do país. Não é coisa pouca.

Enfermeiros. Quase mil escusas em dois meses. Total já ultrapassa as 6500


A Ordem dos Enfermeiros continua a receber declarações de escusa de responsabilidade. Até esta semana, o total era de 6541. A esmagadora maioria enviada por profissionais de Serviços de Urgência, mas também já há algumas de quem trabalha em unidades de cuidados de última linha, o que "é muito preocupante". A bastonária Ana Rita Cavaco acredita que o fluxo de declarações vai manter-se, porque "não são tomadas medidas de fundo para melhorar a contratação".