Gorbachev e a Rússia

 

Gorbachev é detestado na Rússia por perder a URSS e pelo caos em que a Rússia mergulhou depois da perestroika e da glasnost, mas talvez os russos tenham feito o que sempre fazem que é responsabilizar outros pela sua situação. Gorbachev tentou fazer uma transição gradual entre o regime soviético e uma sociedade aberta. Não queria uma revolução sangrenta. A questão é que a URSS era um regime com décadas de terror, corrupção, atavismo por isolamento, completa imaturidade política no que respeita à construção de uma sociedade aberta, plural e democrática e, na época de Gorbachev, não houve ninguém capaz de aproveitar a oportunidade da abertura que ele proporcionou para mudar a sociedade. Não havia uma oposição ao regime soviético, não havia ideias, pessoas com maturidade democrática, exilados que voltassem a casa e ajudassem na reconstrução do país. As pessoas queixavam-se mas não fazia nada. Meia dúzia de pessoas opunha-se a custo de prisão e exílio, mas sem apoio de ninguém. Nenhum movimento de mudança que os promovesse e suscitasse a mudança política e social. E a culpa disso não é de Gorbachev. É de 70 anos de comunismo ditatorial, bélico e castrador. Gorbachev abriu o sistema a todos. Nos países do Leste imediatamente aproveitaram a brecha de Berlim para ir para rua forçar a mudança e exigir a independência. Ele podia ter mandado o exército para os países do Leste europeu para esmagar os movimentos de independência. Podia ter feito o que Putin está a fazer e que foi o MO dos soviéticos durante todo o século XX. No entanto, escolheu não o fazer e, vez disso, apostar na paz e na reconstrução de uma Rússia diferente. Os russos desprezam todos os líderes que não sejam homens ditadores como Estaline e Putin (a tal masculinidade admirada por Putin - não por acaso ele faz-se fotografar a cavalgar ursos e como Czar no palácio) e não sendo capazes de se lhes opor, culpam todos pelo seu estado, menos a si próprios. 

Mikhail Gorbachev: uma figura polémica, amada no estrangeiro mas detestada em casa
Pjotr Sauer