A matemática ensina português
Joana Amaral Dias
Como se sabe, um povo iletrado é mais fácil de subjugar e, depois destes anos covid, nos quais se abalroaram direitos, liberdades e garantias, após a destruição em curso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), entre carga fiscal e inflação, para um Estado autocrático só faltava mesmo uma golpada final na educação. Chegou agora, em pleno Estio, para desfilar, discreta: o Governo pretende que qualquer pessoa licenciada possa dar aulas. Tem um curso superior de Psicologia? Pode leccionar Matemática. Licenciou-se em Física? Porque não dar aulas de Filosofia? Sabe como é: para operar um paciente é obrigatório contar com um cirurgião, para conceber uma ponte é preciso um engenheiro, para gerir uma empresa é necessário um gestor bem pago; já para educar os nossos filhos, construir a geração seguinte, projectar o futuro, para isso, qualquer um serve - para quem é, bacalhau basta. Como se pode encarar assim uma profissão fundamental? De que são feitos os políticos que nos governam? Uma coisa é certa: dos Relvas aos Sócrates, muitos têm sido os que desvalorizam a educação.
Os nossos alunos ficarão, assim, privados de um ensino rigoroso... mas parece que só exigem “especialistas” quando lhes convém. De resto, isto lembra os regentes da escola primária nos tempos de Salazar, que não tinham curso superior (por vezes, nem o secundário), tão-pouco ensino pedagógico. Sabemos como a ditadura deixou Portugal no que à educação diz respeito... um dos países mais analfabetos da Europa, ignaro sobre cidadania, dobrado sobre si próprio.
É verdade que há falta de professores e que hoje é mais raro encontrar alguém que sinta essa vocação. Mas a escassez deve-se, precisamente, às políticas e medidas ziguezagueantes do ponto de vista educativo e enxovalhantes no que concerne à dignidade dos docentes. Ou seja, o défice não se resolve insistindo no erro, baixando ainda mais o nível de formação pedagógica.
Sobretudo depois dos anos 90, a classe docente portuguesa tem sido desdenhada e explorada, repelindo candidatos. Desde as sucessivas reformas, obrigando a permanentes esforços adaptativos, aos egos de cada ministro de estufa, passando pelas malas de cartão até serem encharcados em burocracias estéreis, má sina a destes homens e mulheres. Convidados a emigrar, precários, sem carreiras, não se cansaram de educar as nossas crianças, chamando sempre a atenção para o declínio da qualidade pedagógica e científica. Esbarrando sempre nos ouvidos de mercador dos sucessivos executivos, sobrou o êxodo dos docentes que não estão para tolerar nem compactuar com o lamaçal, muito à semelhança do que se passa com os médicos.
Esta opção fácil do primeiro-ministro, em vez de investir nas carreiras e recuperar o que foi esquecido, não é inocente. Irá poupar dinheiro aos cofres do Estado, acantonando cada vez mais a escola pública na miséria, condenando os seus alunos a serviços mínimos e maus.
Pois é. A saúde privada agradece o vilipendiar de meios e médicos no SNS. O ensino particular regozija com o secar da escolas estatais. Nada contra a livre iniciativa e o empreendedorismo. Mas não se apregoa também a concorrência e a sã competição? Isto, assim, é vencer na secretaria, ganhar com batota e ajudinha do papá Costa. Seja como for, perde é o país - eis o verdadeiro projecto destes socialistas: exterminar todos os pilares do Estado social. No fim, não terás nada - nem casa, nem carro, nem família -, mas serás feliz. Pois. Com a escola assim, estudos também não terás. Mas pronto, bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Já a terra pertence a outros.
Como se sabe, um povo iletrado é mais fácil de subjugar e, depois destes anos covid, nos quais se abalroaram direitos, liberdades e garantias, após a destruição em curso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), entre carga fiscal e inflação, para um Estado autocrático só faltava mesmo uma golpada final na educação. Chegou agora, em pleno Estio, para desfilar, discreta: o Governo pretende que qualquer pessoa licenciada possa dar aulas. Tem um curso superior de Psicologia? Pode leccionar Matemática. Licenciou-se em Física? Porque não dar aulas de Filosofia? Sabe como é: para operar um paciente é obrigatório contar com um cirurgião, para conceber uma ponte é preciso um engenheiro, para gerir uma empresa é necessário um gestor bem pago; já para educar os nossos filhos, construir a geração seguinte, projectar o futuro, para isso, qualquer um serve - para quem é, bacalhau basta. Como se pode encarar assim uma profissão fundamental? De que são feitos os políticos que nos governam? Uma coisa é certa: dos Relvas aos Sócrates, muitos têm sido os que desvalorizam a educação.
Os nossos alunos ficarão, assim, privados de um ensino rigoroso... mas parece que só exigem “especialistas” quando lhes convém. De resto, isto lembra os regentes da escola primária nos tempos de Salazar, que não tinham curso superior (por vezes, nem o secundário), tão-pouco ensino pedagógico. Sabemos como a ditadura deixou Portugal no que à educação diz respeito... um dos países mais analfabetos da Europa, ignaro sobre cidadania, dobrado sobre si próprio.
É verdade que há falta de professores e que hoje é mais raro encontrar alguém que sinta essa vocação. Mas a escassez deve-se, precisamente, às políticas e medidas ziguezagueantes do ponto de vista educativo e enxovalhantes no que concerne à dignidade dos docentes. Ou seja, o défice não se resolve insistindo no erro, baixando ainda mais o nível de formação pedagógica.
Sobretudo depois dos anos 90, a classe docente portuguesa tem sido desdenhada e explorada, repelindo candidatos. Desde as sucessivas reformas, obrigando a permanentes esforços adaptativos, aos egos de cada ministro de estufa, passando pelas malas de cartão até serem encharcados em burocracias estéreis, má sina a destes homens e mulheres. Convidados a emigrar, precários, sem carreiras, não se cansaram de educar as nossas crianças, chamando sempre a atenção para o declínio da qualidade pedagógica e científica. Esbarrando sempre nos ouvidos de mercador dos sucessivos executivos, sobrou o êxodo dos docentes que não estão para tolerar nem compactuar com o lamaçal, muito à semelhança do que se passa com os médicos.
Esta opção fácil do primeiro-ministro, em vez de investir nas carreiras e recuperar o que foi esquecido, não é inocente. Irá poupar dinheiro aos cofres do Estado, acantonando cada vez mais a escola pública na miséria, condenando os seus alunos a serviços mínimos e maus.
Pois é. A saúde privada agradece o vilipendiar de meios e médicos no SNS. O ensino particular regozija com o secar da escolas estatais. Nada contra a livre iniciativa e o empreendedorismo. Mas não se apregoa também a concorrência e a sã competição? Isto, assim, é vencer na secretaria, ganhar com batota e ajudinha do papá Costa. Seja como for, perde é o país - eis o verdadeiro projecto destes socialistas: exterminar todos os pilares do Estado social. No fim, não terás nada - nem casa, nem carro, nem família -, mas serás feliz. Pois. Com a escola assim, estudos também não terás. Mas pronto, bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Já a terra pertence a outros.
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