Este filme, baseado na obra de Jane Austen, não lhe faz justiça, o que é uma pena, porque o filme é muito bonito: as imagens do campo e dos bosques ingleses, de Dorset, dos interiores.
O filme quis explicar-nos Jane Austen com termos modernos, como se fossemos idiotas e não soubéssemos transpor a obra para o tempo actual. Por exemplo, Anne Elliot apresenta-nos a sua irmã mais nova, olhando para a câmara e dizendo-nos para tomarmos atenção a três sintomas que mostram o seu narcisismo. Isto empobrece o filme. Austen é uma excelente observadora do comportamento humano, das suas lutas internas e mostra-os em toda a sua complexidade através da acção das personagens. Não precisamos de intérprete. Isto é o pior do filme, tentar estar em dois tempos históricos ao mesmo tempo e usar o actual para explicar o tempo da obra: acaba por não estar, nem num, nem noutro.
O outro erro, a meu ver, está na superficialidade. O filme parece adoptar o tom de folhetim da série Bridgerton, que é, ironicamente, uma imitação em tom muito sentimentalista, de Austen. Pois este filme imita Bridgerton, desde logo pelo tom da narradora que dialoga com a câmara. Só que Jane Austen não escreve folhetins, as suas personagens são densas e complexas. Persuasão é uma obra que começa oito anos depois da personagem, Anne Elliot, ter rompido o noivado com Wentworth, por influência da família, por ele ser um homem comum e sem dinheiro. Desde então ela tornou-se uma pessoa calma, por fora, mas dilacerada por dentro, muito fechada na dor, sempre numa angústia e tensão insuportáveis. Isso é invisível no filme. Wentworth também é um homem que vive na dor e no ressentimento. Também não passa no filme. Tudo muito superficial.
Uma pena. Belíssima música, cinematografia muito boa, bons actores, mas uma má adaptação da obra.
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