Cores do mercado de Setúbal. Há bocado saí do mercado e meti-me num táxi. Pedi ao motorista para ir pelo caminho ao longo do rio, abri a janela, encostei a cabeça, o motor do carro fazia um suave rom-rom, o rádio tocava baixinho uma música popular, cheirava a manjericão e framboesa e vim assim a sentir o ar fresco que entrava pela janela varrer-me a cara e a impressão de uma vida possível habitada na luz das coisas simples que devidamente apreciadas trazem aquela felicidade mansa que só vem com a paz.
Não sou uma pessoa de cheiros (tenho o olfacto pouco apurado) mas posso ser uma pessoa de coisas pequenas que podem trazer uma felicidade enorme e a consequente paz interior. O seu pequeno texto "cheira" (passe o cliché) a exaltação. Só assim se escreveria um parágrafo tão longo com apenas duas vírgulas. Fez bem em não as colocar (propositada ou não propositadamente). Afinal, a ausência de pontuação numa frase comprida pode ser um bom indicador e marcar um ritmo q
ReplyDeleteNão tenho o olfacto suficientemente apurado para ser uma pessoas de cheiros. Mas serei uma pessoa de pequenas coisas que geram a felicidade que advém da paz interior. O seu post "cheira" (passe o clché) a exaltação. Só assim se escreveria uma frase tão longa com apenas duas vírgulas. Fez bem em não colocar pontuação, qualquer que tenha sido a motivação. Afinal, a sua frase final, sem pontuação que nos obrigue a respirar, marca um ritmo claro. Talvez mais claro do que o meu comentário.
ReplyDeleteSim, quais coisas?
ReplyDeleteCinco vírgulas, sff. As vírgulas e outras pontuações servem para dar sentido -um certo sentido- a um texto e se não são necessárias, não se usam.
Eu sou uma pessoa de cheiros. Cheiros são como paisagens mentais.
Agora é que vi este comentário não interrompido.
ReplyDeleteMesmo sem vírgulas há palavras que são por si mesmas uma pontuação. Por exemplo, um 'e' (conjunção) funciona como uma vírgula e marca uma pausa numa leitura de um texto - até me repugna um bocadinho a moda que há agora de pôr vírgulas antes dos 'e'. É uma redundância. Também o 'que' relativo marca uma pausa na leitura sem precisar de vírgulas.
Ora, faça lá o favor de ler fazendo pausas nos 'e' (conjunção) e 'que' relativos e depois diga se é assim tão longo.
O meu comentário pretendia ser um elogio, espero q o tenha lido assim. Até pq lhe disse q ainda bem q nao tinha colocado pontuação. O texto ganhou com isso, na minha opinião. Talvez aunda hoje consiga transcrever um trecho d’ A caravela e os corvos (penso eu de que…) q tem um ritmo fantástico pq nao tem vírgulas, apenas ‘e’.
ReplyDeleteEsse texto tem que ver com a lenda de S. Vicente e dos corvos de Lisboa? Não conheço.
ReplyDeleteEscrevo muito com parágrafos grandes.
O texto abaixo, de Suzanne Chantal ('A Caravela e os Corvos') não tem, afinal nenhum 'e', mas tem um ritmo igual ao seu parágrafo. Pelo menos é assim que o leio.:
ReplyDelete"(...) Todas as vozes, o bater da roupa que se lava, as ferraduras dum burro, o choro duma criança, o grito cantante das vendedeiras de peixe ou de laranjas, as discussões de taberna, a T.S.F., o acordeão, um carro que manobra nas ruas principais, o vento no catavento dum campanário, a recitação na sala da escola, o som abafado dos pés descalços nos degraus e pedra, a campainha dum eléctrico distante."
Ambos os textos têm um ritmo que é independente da pontuação. E, em defesa da minha dama, diria que ambas as frases são (tão) longas. Acima de tudo não são demasiado longas.
Não conhecia o texto. Tem um ritmo ondulante.
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