June 09, 2022

Todos os dias uma palestra de ignorância sobre a educação



Todos os dias um artigo qualquer vem dizer... coisas... sobre a educação e os professores a partir da ignorância real e não socrática (a rubrica onde este senhor diz coisas, chama-se 'só sei que nada sei') do que se faz nas escolas.

Primeiro as generalidades -slogans- do costume, a saber, A vida passou a basear-se em ciência e em tecnologia, como se não fosse assim desde há um século, pelo menos; que tem de preparar os seus alunos para uma cada vez maior capacidade de aprender, para não submergirem nos processos de inovação cada vez mais rápidos - o que os alunos devem aprender é a linguagem da codificação, que há-de ser uma ferramenta básica, de resto, "aprender a aprender" é um slogan do tempo de Sócrates que sempre fez parte da escola mas cada vez é um horizonte mais longínquo porque requer processos que são desprezados pelas actuais políticas educativas. Mas acerca disto, este economista não sabe nada, nem quer saber. Ele quer é dizer... coisas... 

Diz que a escola portuguesa é um desastre porque, uma boa parte dos alunos não consegue mais do que um salário de miséria, tendo de emigrar se aspira a um nível de vida mais elevado e A escola falha na promessa de um nível de vida mais elevado que faz aos seus alunos. Ora, a escola não promete aos alunos um nível de vida mais elevado porque isso cabe à política, economia e à sociedade. Que os empregadores portugueses ofereçam o salário mínimo a licenciados com mestrado, como se vê pelos anúncios ou, zero salário se estiverem à experiência ou a estagiar, não tem que ver com a escola mas consigo, senhor economista e com os da sua estirpe que advogam salários miseráveis para manter o país competitivo, seja lá isso o que for. Aliás, diz na última frase do artigo, com propriedade mas muito contraditoriamente ao que diz em cima, que a escola tem de deixar de prometer o que, por si só, nunca poderá dar à generalidade dos seus alunos: emprego, rendimento, nível de vida, no país em que nasceram. De facto, a escola nem promete nada, porque não é a sua função (quem promete a vida eterna é o padre cura e quem promete a riqueza a todos é o governo) nem dá nada em termos de desenvolvimento pessoal futuro ou de empregos de sucesso, pois isso cabe a cada um construir e conquistar com o que aprendeu. 

A escola forma atitudes e estratégias de pensamento;  ensina técnicas e protocolos; constrói conhecimentos. Porém este economista fala da escola como a entidade que deve resolver o problema da economia, do emprego e da emigração no país. Isto é abaixo da crítica séria. 

A escola terá de se repensar. Abrir-se à inovação. Experimentar, de forma descentralizada, em busca de boas práticas, que depois difundirá. Gostava de saber o que sabe ele de tudo o que se faz nas escolas para dizer que a escola tem de fazer... o que já faz.

Depois vem com o Pai Nosso do costume: Gostaria, como é óbvio, que se dessem passos em frente no sentido da resolução deste problema. Como, não sei, mas atrevo-me a pensar num caminho — trazendo conhecimentos da área da gestão. Pois claro, o que queremos é transformar uma escola numa fábrica de criadores de unicórnios, como lhes chamam. Evidentemente que isto de reduzir pessoas a gestores tem tudo que ver com respeitar a integridade da pessoa, trabalhar para uma formação global da pessoa que favoreça a sua liberdade de escolha de projecto de vida e realização.

Não temos cura destas luminárias, destes engenheiros sociais, que todos os dias vomitam disparates sobre a educação, gritando contra os professores por não terem resolvido os problemas da economia, do emprego, da riqueza do país, da política, da corrupção, da emigração e sei lá mais o quê... da condição humana e divina, também?



Educação e desenvolvimento económico

Daniel Bessa


As economias e as sociedades do conhecimento, como hoje aspiramos a ser, em Portugal, lançaram sobre a educação este novo desafio. A vida passou a basear-se em ciência e em tecnologia e é impossível estar nela, sobretudo na esfera económica, sem o contributo de uma escola também ela científica e tecnologicamente avançada, preparando os seus alunos para uma cada vez maior capacidade de aprender, sem o que, como futuros profissionais, submergirão perante processos de inovação cada vez mais rápidos.

Avaliada à luz destas exigências, a escola portuguesa é um desastre (sem menosprezo por todas as honrosíssimas exceções, que também as há). Poderá alegar-se, e haverá certamente quem o faça, que a escola portuguesa faz tudo bem; no final, uma boa parte dos alunos não consegue mais do que um salário de miséria, tendo de emigrar se aspira a um nível de vida mais elevado para si e para a sua família. A escola falha na promessa de um nível de vida mais elevado que faz aos seus alunos — razão de desprestígio e, no limite, de desinteresse e mesmo de abandono, seja de alunos seja das suas famílias.

Gostaria, como é óbvio, que se dessem passos em frente no sentido da resolução deste problema. Como, não sei, mas atrevo-me a pensar num caminho — trazendo conhecimentos da área da gestão a que a escola e sobretudo o Ministério da Educação são normalmente muito avessos.

Não é possível resolver um problema que não se reconhece como tal. Uma condição sine qua non, que não vejo cumprida na generalidade dos “pensadores” da escola portuguesa.

Se a educação quiser participar de forma mais eficaz do processo de desenvolvimento económico, terá de se repensar. Abrir-se à inovação. Experimentar, de forma descentralizada, em busca de boas práticas, que depois difundirá. Dar autonomia às escolas. Adotar novos processos de ensino. Ministrar outras competências, além das científicas e tecnológicas propriamente ditas — competências, também elas, exigidas pelo mercado de trabalho, por exemplo, na área comportamental.

Terá também de se posicionar, a educação, de forma diferente, no processo de desenvolvimento. É uma âncora, mas apenas parte. Terá de tornar claro que se exige muito mais, em muitos outros domínios, deixando de prometer o que, por si só, nunca poderá dar à generalidade dos seus alunos: emprego, rendimento, nível de vida, no país em que nasceram.


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