June 29, 2022

Roe v Wade - IVG e o que é isso de ser 'pró-vida'

 


Neste vídeo com um pequenino excerto de uma entrevista a Trump ele resume claramente o que é a posição de ser pró-vida: é punir as mulheres.

Para os que são, 'pró-vida', assim que uma mulher tem no seu corpo uma célula fecundada, a sua vida deixa de ter importância, a mulher agora é nada em si mesma e deve ser sacrificada em prol dessa célula fecundada que tem no organismo. A sua liberdade de se autodeterminar desaparece completamente e passa a ser uma refém da opinião alheia sobre a sua vida, as suas possibilidades de vida e o seu futuro. Portanto, a expressão 'pró-vida' é enganadora pois leva em si o desprezo pela vida da pessoa completa e formada que é a mulher.  

A gravidez é uma condição física e psicológica. Não é uma condição abstracta ou teórica, um conceito no vazio. Passa-se dentro do corpo das pessoas que são as mulheres e não é uma espécie de implante inócuo que as mulheres têm no corpo durante uns tempos e depois tiram e vão à sua vida. É um processo complexo, transformador da pessoa em termos físicos e psicológicos, com aspectos temporários e outros permanentes e riscos associados.

"Uma em cada 8.475 mulheres morre devido a complicações na gravidez. As causas mais comuns de morte de mulheres grávidas são:

- Embolia (coágulos de sangue que afectam o coração e o cérebro);
- Eclâmpsia (complicações da tensão arterial elevada que afectam a gravidez);
- Hemorragia intensa;
- Septicemia;
- Acidentes vasculares cerebrais (AVC, hemorragia no cérebro); 
- Mortes relacionadas com anestesia.

No total, estas causas são responsáveis por 80% de todas as mortes relacionadas com a gravidez de uma mulher. Causas desconhecidas ou pouco comuns são responsáveis pelos restantes 20% das mortes relacionadas com a gravidez. As mulheres que têm doenças crónicas graves correm um maior risco de morte do que as mulheres saudáveis. Também as raparigas adolescentes (entre os 13 e os 19 anos) estão sujeitas a maiores riscos. 

Em certos casos pode ser preciso ficar acamado quase todo o tempo de gravidez alterando por completo as condições da vida de uma pessoa.

A continuação da gravidez inclui também o risco de sofrer complicações que nem sempre são fatais.

- Aproximadamente 15 a 20 de cada 100 mulheres grávidas requerem parto por cesariana.
- Uma em cada 10 mulheres pode desenvolver infecção durante ou após o parto.
- Cerca de uma em cada 20 mulheres grávidas tem problemas de tensão arterial.
- Uma em cada 20 mulheres sofre de perda excessiva de sangue no parto.

O parto é quando o útero de uma mulher grávida contrai e empurra (dá à luz) o bebé do seu corpo. O parto pode ser feito através da vagina da mulher ou por cesariana. Uma cesariana é um procedimento cirúrgico.

Os seguintes são possíveis efeitos secundários e riscos associados ao parto vaginal:
- Lesão da bexiga ou do recto;
- Um buraco (fístula) entre a bexiga e a vagina ou o recto e a vagina;
- Hemorragia intensa (hemorragia);
- Incapacidade de engravidar no futuro, devido a infecção ou complicação de uma operação;
- Tratamento de emergência para qualquer dos problemas acima referidos, incluindo a eventual necessidade de tratamento com uma operação, medicamentos ou transfusão de sangue;
- Queda da bexiga. A parede vaginal suporta a bexiga. O parto coloca stress nesta parede, causando potencialmente danos a longo prazo. Mais tarde na vida, não é invulgar a parede vaginal ceder essencialmente, fazendo com que a bexiga caia na vagina.
- Incontinência de esforço. Quando a parede vaginal colapsa, isto desencadeia um efeito dominó. Não só a bexiga, a uretra e o recto se deslocam para dentro da vagina, mas isto também coloca pressão adicional sobre a bexiga, causando fugas. Esta fuga, conhecida como incontinência de esforço, pode ocorrer com qualquer esforço adicional ou ao rir, espirrar ou tossir.
- Rectocele. Durante o parto, é também possível rasgar o septo rectovaginal, que separa o recto e a vagina. O tecido rectal pode então saltar através desta abertura, semelhante a uma hérnia. As mulheres que fazem partos grandes (pesando mais de 4 quilos) ou as que têm partos rápidos são mais susceptíveis a esta condição.
- Raramente, a morte.

Os seguintes são possíveis efeitos secundários e riscos associados à cesariana:
- Lesão no intestino ou na bexiga;
- Incapacidade de engravidar no futuro, devido a infecção ou complicação de uma operação;
- Hemorragia intensa (hemorragia);
- Lesão no tubo (ureter) entre o rim e a bexiga;
- Uma possível histerectomia (cirurgia de remoção do útero) como resultado de complicação ou lesão durante o procedimento;
- Complicações da anestesia;
- Tratamento de emergência para qualquer dos problemas acima referidos, incluindo a possível necessidade de tratamento com uma operação, medicamentos ou uma transfusão de sangue;
- Morte.

Reacções Emocionais

- Muitas novas mães experimentam ansiedade e depressão pós-parto. Normalmente desaparece em poucos dias ou semanas com tranquilidade, apoio da família e dos amigos, o descanso e o tempo. (quantas mães têm estes luxos?)
- A depressão pode evoluir para uma depressão de longo prazo ou permanente com sintomas de não ser capaz de cuidar de si ou do bebé; não ser capaz de completar as tarefas diárias; e/ou incluir pensamentos de se magoar a si própria ou ao bebé; sentimentos graves de culpa e de vergonha por ser 'má mãe'; apatia.

O corpo de uma mulher grávida à medida que progride na gravidez, tem os orgãos fora do sítio normal o que origina muitos problemas temporários e/ou permanentes. Estas imagens mostram sempre os fetos quietinhos e enroladinhos mas a realidade é outra: os fetos movem-se, esticam-se, espreguiçam-se, dão pontapés e exercem uma constante pressão e 'empurranço' de orgãos dentro do corpo. Desvios da coluna na zona lombar, dores fortes nos rins, que neste desenho nem se vêem, etc.



Outros efeitos temporários e de longo prazo comuns: cansaço permanente, dores nas costas, anemia, perda de cálcio, gengivites, cáries (problemas nos dentes podem causar parto prematuro), incontinência, diabetes; náuseas e vómitos permanentes; azia (quando o feto cresce e coloca muita pressão no estômago e o ácido estomacal não é devidamente mantido no estômago), hemorróidas, colestase da gravidez, cãibras, síndrome de pernas inquietas, intensificação incómoda do olfacto, pólipos cutâneos, dores e extrema sensiblidade no peito devido ao aumento do estrogénio e da progesterona, leucorreia, deformação permanente do corpo, dores permanentes nas relações sexuais, etc., etc.

É evidente que mesmo com poucos problemas, uma gravidez e um parto são uma mudança brutal na condição física e psicológica das mulheres, umas temporárias, outras permanentes, de maneira que parece-me completamente normal que uma mulher possa escolher não querer passar por este processo. (Nem sequer me refiro aqui aos casos de violação, incesto e outros afins como a mulher já ter vários filhos e viver em pobreza, por exemplo, que me parecem nem sequer requerer argumentação)
Porque razão uma mulher tem de sacrificar a sua saúde, os seus estudos e a sua carreira para manter uma gravidez que não quer? Porque absurdo se deve obrigar a mulher a manter uma gravidez como uma punição?  O corpo das mulheres tornado refém dos dogmas religiosos de outros? Com que arrogância se diz às mulheres: agora que tens uma célula fecundada no corpo o teu valor é apenas essa célula e vamos obrigar-te a mantê-la com todos os riscos que isso comporta para ti (não para nós), mesmo a morte, se for preciso, tudo para manter essa célula no corpo. 
Um feto, durante muito tempo é um potencial: não tem sistema nervoso sequer constituído, mas as mulheres que engravidam não são umas células sem sistema nervoso, são pessoas que existem como seres humanos autónomos, com direitos universais. Ou os direitos humanos dizem, "todos os seres são iguais em liberdade, dignidade, autonomia, todos tem direito a cuidar da sua saúde física e psicológica..." excepto se forem mulheres e estiverem grávidas porque aí perdem todos os direitos e passam a ser recipientes de fetos sem poder de decisão sobre si mesmas e a sociedade e o Estado é que decidem o que elas podem fazer?

Pode dizer-se que os riscos mais graves afectam uma percentagem relativamente pequena de mulheres, mas a questão permanece: se calha a pessoa ser uma delas? Porque razão há-de ser obrigada a assumir estes riscos se não quiser? Ou será porque as religiões pensam que se as mulheres não querem ficar grávidas então que se abstenham de relações sexuais? 
Porque razão se dificulta a venda de contraceptivos?

Aquelas imagens que as pessoas que se dizem pró-vida -mas são contra a vida das mulheres- põem por aí de mulheres no último mês de gravidez como se fosse nessa altura que se fazem abortos (em nenhum país do mundo se podem fazer abortos a partir de certa altura  -onde já é chamado parto- que difere mas nunca vai a extremos) não passam de demagogia para chocar emocionalmente as pessoas. 

Eu tive uma educação religiosa - tenho padres na família. Sei como é a educação religiosa das raparigas, como nos é inculcado desde muito pequenas que o maior conseguimento e honra de uma mulher é ser mãe. Que estar grávida é ser uma espécie de rainha e que Deus fica contente connosco, que é o que Ele mais quer de nós mulheres, que as mulheres existem para ser amadas pelos homens e cumprirem o plano de Deus e por aí fora. Sempre com citações de Papas e outros homens que sabem nada acerca das mulheres e desprezam-nas como se vê claramente pela repartição do poder entre homens e mulheres nas religiões. 

A maioria dos homens religiosos e, infelizmente, muitas mulheres, pensam como Trump: as mulheres que interrompem uma gravidez são assassinas de bebés e merecem ser punidas (assim que uma célula é fecundada já lhe chamam, o bebé), da mesma maneira que os médicos que assistem na eutanásia são assassinos.

Vendo que as mulheres passam por tantos problemas físicos e emocionais com a gravidez, porque razão os homens não ajudam a evitar esse problema? Em primeiro lugar porque os homens ignoram por completo o que se passa com as mulheres física e psicologicamente durante a gravidez. Muitos dos legisladores nem sabem que a vagina e a uretra são coisas diferentes (há os que pensam que as mulheres têm o poder de mandar o corpo não engravidar), pensam que estar grávida é ter um implante no corpo que depois se tira e nem querem ouvir falar de 'problemas de mulheres' (há pouco tempo houve um sururu no nosso Parlamento porque uma deputada falou lá de menstruação - os homens ficaram embaraçados e algumas mulheres também). Depois, porque nas religiões o egoísmo masculino é exaltado: o homem é um macho que insemina as mulheres e impedi-lo de espalhar a semente, como dizem, é rebaixar os homens e atraiçoar o plano de Deus, de maneira que os homens não são educados a sentirem responsabilidade por engravidarem mulheres. Se sentissem essa responsabilidade já podiam ter desenvolvido uma pílula masculina, por exemplo ou podiam fazer uma vasectomia que é um procedimento que dura dez minutos + dois dias a comer gelados e é reversível, como se vê neste vídeo abaixo. Que é isso comparado com todos os problemas que uma mulher tem com a gravidez e o parto? Se os homens nunca engravidassem mulheres sem o seu consentimento o problema do aborto desaparecia. Isso é que é ser pró-vida e não defender a obrigação das mulheres estarem grávidas e a sua punição como assassinas, pelo facto de quererem tomar conta da sua saúde física e psicológica e das suas vidas.



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