Estou aqui a corrigir e classificar testes ao som de Glinka, mais propriamente da «Jota Aragonaise» e de vez em quando endireito as costas, levanto os olhos e dou de caras com a prateleira de História, ao lado da Literatura Portuguesa. Os livros olham para mim com um ar de censura, parados que estão ali, já lidos (a maioria) como que a perguntar, Se não nos vais ler outra vez, que estamos aqui a fazer? Faço essa pergunta a mim mesma muitas vezes. Devia vender os livros que já li? Dar?
Bem, dar, dou bastantes. Todas as obras de etnografia e de critica literária que tinha, nomeadamente da INCM, dei-os a quem deles gosta e precisa no seu trabalho. Colecções inteiras. Só aí foram uns 300 livros. Dei as coleções infantis quase todas a miúdos. E dei livros de arte sobre temas de arquitectura e outros assuntos, a quem deles precisava e gostava. Dei muitos de livros de História. No entanto, ainda sobram muitos livros. Uns 3000...? Por aí... Um terço são de filosofia.
Um dia que desapareça, que faz o meu filho disto tudo? Alguns livros fica com eles, sei que gosta deles e se interessa, mas outros...? A quantidade de livros de Filosofia, de autores clássicos gregos e romanos, de autores portugueses (as obras completas de Tomáz de Figueiredo, por exemplo) que já ninguém lê, a colecção de dicionários, para que as quer ele? Aliás, tirando os livros de filosofia e uns poucos mais, para que as quero eu?
Mas depois... leio os filósofos, os dicionários também os leio (consulto), a poesia também. Os livros de arte pego-lhes frequentemente. Algumas biografias e livros de História releio, mas o «Guerra e Paz», por exemplo? Nunca mais o leio. E a quantidade de livros que tenho sobre a História recente, do século XX, de memórias deste e daquele, de personagens, maiores e menores da nossa História, da de França, da Alemanha, da Rússia, da Inglaterra... Depois há muito romances que não volto a ler, americanos, ingleses e franceses, de língua espanhola, russos. Os livros de cavalos e touros do pai. A coleção completa do Georges Simenon, da mãe. Que faz ele com isto? Devia vender isto tudo, ou dar o que não se vende e deixar-lhe antes uma conta bancária...
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