A série é baseada no podcast Slow Burn de Leon Neyfakh e é sobre o escândalo Watergate. O que diferencia a série de outros filmes sobre o Watergate é o facto de ser, não um desenvolvimento dramático do género policial político, com as grandes personagens do jogo -o rei, a rainha e os bispos- na construção da conspiração, mas sim uma sátira negra que incide sobre os cavalos e os peões.
A série é contada a partir do ponto de vista da personagem de Martha Mitchel, uma célebre sulista e vedeta social, mulher do Procurador Geral de Nixon, John N. Mitchell. Martha Mitchel, de quem nunca tinha ouvido falar, era uma mulher exuberante e desbocada que estava sempre nas notícias por dizer o que pensava dos políticos e das políticas do seu partido, o que causava, amiúde, grandes embaraços ao governo e, evidentemente, ao marido. Foi ela quem primeiro ligou o nome de Nixon ao caso Watergate e fê-lo publicamente de maneira que obrigou o marido a uma escolha de lealdade entre ela e o Presidente e acabou fechada e isolada num quarto de hotel na Califórnia, guardada por seguranças e impedida de ver notícias e de falar à imprensa. Daí o nome da série, a relembrar o famoso filme de George Cukor com Ingrid Bergman.
Acompanhamos John Dean, um típico político menor sem grandes escrúpulos sempre a tentar ver o melhor ângulo para vender os seus talentos e conseguir aproximar-se das cúpulas do poder; Gordon Liddy, um zelota do FBI que comanda a operação de assalto à sede de campanha do Partido Democrata e outros peões menores.
A série mostra-nos o ridículo e o patético das personagens políticas nos seus jogos de enganar e de ganhar vantagem sobre os adversários, o absurdo das situações, a cegueira dos lacaios que vêem no seu líder alguém mais que humano e a pequenez moral dos grandes actores políticos que governam os países. A farsa que a maioria representa para si mesmo e para os outros. Uma trágicomédia onde pessoas menores e fúteis envolvidas em jogos labirínticos nos corredores do poder decidem do destino de todos. Tem cenas e diálogos deliciosos que vemos sempre com um riso nos lábios.
Quem representa o papel de Martha Mitchel é Júlia Roberts, numa prestação muito boa, como nunca a tinha visto. Sean Penn tem o papel de John N. Mitchell. Está irreconhecível por conta das próteses na cara que lhe retiram, a meu ver, alguma capacidade de expressão. Dan Stevens é um John Dean excelente, oleoso e sem moral. Shea Whigham constrói um Gordon Liddy completamente fanático, dedicado à causa e ao seu Presidente.
A série vai no segundo episódio que acaba com Martha Mitchel a perceber que foi levada para a Califórnia com um falso pretexto para a afastarem de tudo e a trancarem num quarto de hotel. Sabemos o que se vai passar e mesmo assim queremos ver.
publicado também no delito de opinião
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