Este filme, de 2019, decorre durante os dois anos (1887 a 1889) que durou a construção da Torre que leva o seu nome e acompanha as vicissitudes da obra, nomeadamente a oposição de que foi alvo por parte de muitos parisienses. No entanto, o filme passa-se à volta de um acontecimento-hipótese que pretende responder à questão que desde há muito intriga os historiadores: porque é que Eiffel, que se opunha veementemente à construção de uma torre de ferro para a exposição de Paris de 1889 -ele tinha visto planos- de repente, de um dia para o outro e sem explicação aparente, decidiu construí-la e tornar-se o seu maior defensor. O filme adianta uma hipótese baseada na história de vida de Eiffel.
Quando era mais novo, Eiffel tinha sido o engenheiro chefe da construção de uma ponte de ferro em Bordéus. Acontece que ele e a filha do dono da construtora, Adrienne Bourgès, se apaixonaram perdidamente, mas foram impedidos de casar pela família dela, devido a ele ser de uma classe social inferior. Então, o filme supõe que eles se encontram em Paris vinte anos depois, por acaso, numa jantar em que se discute que projecto se deve levar à exposição de 1889, para elevar o nome da França, ainda afectada pela derrota de Sedan e para rivalizar com a Estátua da Liberdade, cujo esqueleto é da autoria de Eiffel. Nesse jantar, desafiado por Adrienne Bourgès, ele propõe-se construir construir a Torre, com 300 metros de altura, toda em ferro, no centro da cidade, para poder ser desfrutadas por todas as classes sociais. A partir daí o filme passa-se nos dois tempos desse grand amour, separados por vinte anos. No filme, a Torre tem a forma de um 'A', por causa de Adrienne.
Não sabemos se isto é verdade, mas também não interessa muito porque o filme é menos uma reconstituição histórica dos factos (nem abordam a oposição dos 300 artistas) e mais uma reconstituição da atmosfera, dinâmica e ambiente históricos da época. Dado que tem uma excelente e impecável produção damos vários passos atrás, no tempo, mas também na literatura. Entramos nas novelas de Dickens, com as fornalhas da revolução industrial quando estamos nas cenas de construção das fundações da Torre; estamos no ambiente de Proust nas cenas de interior dos jantares elegantes e passeios pelos parques e entramos nos romances queirosianos quando se discute as inovações e as políticas da época e o ambiente de fim de uma era. Vale a pena ver esse mundo ainda não totalmente perdido.
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