February 04, 2022

A dimensão do «ethos» na argumentação

 


Esta conversa é fascinante. O porta-voz da Casa Branca diz que tem informações de que os russos estão a iniciar acções para lançar um (falso) ataque às tropas russas na Ucrânia e o repórter pergunta-lhe se têm evidências disso e o porta-voz responde que acabou de dizer que têm um relatório que informa dessa intenção. O repórter responde que isso é uma alegação e se não têm provas de suporte não passa de uma alegação. O porta-voz insiste que a alegação é a evidência. 

Desde que a administração Busch veio dizer que tinham provas de armas de destruição massiva no Iraque, sendo tudo fabricação e mentira, passámos à situação de, no lado do poder, tudo se dizer e fazer sem evidências, e do lado da imprensa ninguém já acreditar em nada do que dizem. Total ausência de credibilidade (tenho que levar este exemplo para as aulas quando falar na dimensão do ethos na argumentação). O governo americano perdeu o ethos, aquela dimensão ética  de respeito que era reconhecida pelo povo e lhes dava crédito de honra e valor de verdade no discurso. Não foi só o americano, os governos estão tão embrulhados em mentiras e corrupção que ninguém já tem aquele respeito que se tinha pela palavra de um governo.

O que uns governos destroem, os seguintes não conseguem recuperar.


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