Alguma vez lhe aconteceu estacar subitamente no cimo de um monte, completamente sem fôlego pela beleza espantosa que tem diante de si? Já se sentou numa catedral, enlevado pelo timbre pungente de um coro a ecoar? Já sentiu aquela mistura peculiar de espanto e terror ao pé de uma grande e esmagadora cascata? Para muitas pessoas, há momentos em que se sentem ultrapassadas por uma sensação de presença de um «outro», um encontro com um poder que não parece da ordem normal das coisas.
Estes vislumbres de transcendência são o que Rudolf Otto chamou de «numinoso», um aspecto comum e poderoso das nossas vidas e uma característica de quase todas as religiões.
A palavra «numinoso» deriva do latim «numen», força e poder divino. Muitos crentes religiosos referir-se-ão a alguma experiência inexplicável e não-racional do divino. Alguns poderão chamar-lhe uma experiência religiosa, outros poderão referir-se a ela como «mística» (permanecendo agnósticos quanto à sua origem), mas é um elemento essencial e profundo na crença da maioria das pessoas.
O numinoso é caracterizado por uma espécie de terror religioso. É uma consciência de uma presença terrível, poderosa e infinita, que faz mais do que simplesmente ananear o eu - quase o oblitera por completo. É aquilo a que Otto chama mysterium tremendum. Este encontro, este sensação de presença do Outro, está para além da concepção e da articulação. É «fascinante» no sentido de que entra e envolve o sujeito mas vem também com "temendo horror e majestade".
O numinoso de Otto é o primo religioso-místico do «sublime» de Burke. É um sentimento de medo, mas associado a um fascínio e sentido de beleza que é melhor descrito por demonstração: cataratas violentas, multidões enfurecidas ou a vertigem da borda de um penhasco.
Porém o numinoso difere do sublime na medida em que insinua um outro mundo, uma outra realidade sobrenatural, metafísica, mais incrível e magnífica do que todas as maravilhas deste mundo combinadas.
A impressão e o eco do numinoso deixam a sua marca. Insinuam em nós o místico, mas não o provam, nem isso seria possível.
A impressão e o eco do numinoso deixam a sua marca. Insinuam em nós o místico, mas não o provam, nem isso seria possível.
Embora deparar-se com o numinoso não seja uma prova da existência de uma força divina, oferece, talvez, um vislumbre por detrás da cortina [desta realidade].
mini-philosophy
não sei de quem é esta pintura
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