January 25, 2022

Filmes - The Lost Daughter

 


Este filme é baseado num livro da Elena Ferrante, a autora mistério que ninguém sabe quem é. Enfim, a editora dela deve saber. Isso agora não interessa. O filme é, essencialmente, acerca de ser-se humano e de como isso interfere com a ideia que a sociedade tem das mulheres enquanto mães. A 'boa mãe' é a mãe que ama os filhos acima de tudo, acima da sua vida, que se anula completamente para estar sempre ao dispor dos filhos. 

O filme passa-se em dois tempos da vida de uma mulher, Leda (a que, na mitologia, teve dois ovos), uma professora universitária: no primeiro ela está na meia-idade e vai para uma ilha grega fazer férias e escrever e no outro tempo, ela é uma mãe recente, com duas filhas de dois e quatro anos, enquanto está a escrever a tese de doutoramento e a tentar ter uma carreira. Não tem tempo, nem sossego e o marido parte do princípio que o trabalho dele é que é sério e que ela, sendo agora mãe, deve mudar e sacrificar-se a si e à sua carreira pelas filhas. Só que ela sente-se a sufocar, sem espaço nem privacidade nem tempo para ela. Ficamos a saber que a certa altura da vida dela ela sai de casa desesperada e durante três anos vai tratar da vida e da carreira dela. Depois volta, mas fica para sempre com essa culpa que os homens não têm porque ninguém espera deles que deixem de ser humanos quando têm filhos e se anulem como se espera das mulheres, de modo que são ausentes sem culpa. 

O filme mostra a humanidade por baixo dos constrangimentos e pressões sociais e como ser-se humano nem sempre é bonito, mas é a realidade e não aquela imagem sacralizada que prega as mulheres à cruz da maternidade. No filme há uma família enorme que aparece na ilha e que tem uma rapariga nova com uma filha pequena e essa situação vai servir para Leda fazer uma catarse da culpa. O filme acaba com ela a sangrar enquanto fala com uma das filhas que lhe telefona preocupada por ela não dar notícias há dias e lhe diz, 'estávamos a pensar que tinhas morrido' -ao que ela responde, 'não, agora estou viva'.

Existem homens no filme mas são personagens secundárias e o filme 'vive' de 4 mulheres, Jessie Buckley, Dagmara Dominczyk, Dakota Johnson, Olivia Colman, quatro actrizes que gosto muito e fazem um excelente papel. Maggie Gyllenhal é a realizadora e realiza o filme com uma sensibilidade muito crua. Ela é muito inteligente a mostrar as camadas que se escondem atrás da superfície. Não esconde nada. Muito bom.



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