January 11, 2022

Em Portugal condena-se muito os jornalistas e outras pessoas pela liberdade de expressão




Falta de hábito de uma vivência democrática. E não tiveram com meias medidas, pediram 50 mil euros para cada um... e os herdeiros andavam a pagar este abuso de poder. Isto é uma vergonha porque os juízes são justamente aqueles em quem confiamos para nos defender dos abusos do poder.


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Jornalista tinha sido condenado por difamar Associação Sindical dos Juízes e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. Mas, para o Tribunal Europeus dos Direitos Humanos, declarações de Rangel foram opiniões e críticas próprias de uma sociedade democrática

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou, agora, que essa condenação, que havia sido confirmada pelo Tribunal da Relação de Lisboa e pelo Supremo Tribunal de Justiça, foi "totalmente desproporcionada" e "não respeitou os direitos de livre expressão" do jornalista.

O caso começou em abril de 2010:

"A Associação Sindical dos Juízes e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público entraram na onda de descredibilização do jornalismo e obtêm processos para os jornalistas publicarem, trocam esses documentos nos cafés, às escâncaras", disse então. Perante os deputados, Rangel defendeu, também, que o tema não ia "acabar bem" se não se voltasse "a um tempo com regras que impedem o poder judicial de se envolver na política".

De imediato, a Associação Sindical dos Juízes Portugueses e ao Sindicato dos Magistrados do Ministério Público apresentaram queixa e, em 2012, Emídio Rangel foi condenado, por difamação, ao pagamento de uma indemnização de 50 mil euros a cada um dos queixosos. Foi, igualmente, punido com uma multa de 6 mil euros e recorreu para o Tribunal da Relação de Lisboa.

Os juízes desembargadores mantiveram a condenação, mas baixaram o valor da indemnização para 10 mil euros. Decisão que não foi bem aceite pela Associação Sindical dos Juízes Portugueses e Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, que recorreram para o Supremo Tribunal de Justiça.

Em 2013, os juízes conselheiros deram como provado que o jornalista tinha efetivamente cometido o crime de difamação e fixaram o montante indemnizatório em 25 mil euros para cada uma das associações.

Valor que o fundador da TSF pagou à Associação Sindical dos Juízes Portugueses, mas não ao Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. À morte de Emídio Rangel, em 2014, quando tinha 66 anos, a dívida passou para os herdeiros do jornalista.

Nesta altura, o caso já tinha chegado ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Rangel apresentou uma queixa, justificada com a violação do artigo 10 da Convenção Europeia: direito à liberdade de expressão.
Sete anos depois, os juízes europeus deram-lhe razão e condenaram o Estado português a pagar uma indemnização de 31 500 euros, mais quase 20 mil euros por despesas judiciais.

"O Tribunal considerou que as questões sobre as quais o requerente [Emídio Rangel] tinha falado na Comissão Parlamentar - a partilha de informações confidenciais com jornalistas para alcançar objetivos políticos - era de interesse para o público", lê-se na decisão conhecida nesta terça-feira.

Para o Tribunal Europeu, "embora a redação possa ter sido infeliz, os comentários poderiam ser interpretados como uma ilustração de uma crítica mais ampla da sociedade, em relação à intervenção inadequada do poder judiciário na política e nos meios de comunicação social".

Assim, os juízes europeus não têm dúvidas que os tribunais portugueses basearam-se "unicamente nos direitos das associações profissionais, em vez de os equilibrarem" com os direitos do jornalista. Os tribunais portugueses tiveram uma "interferência desnecessária numa sociedade democrática", conclui a instituição europeia.

8 comments:

  1. Uma coisa é a liberdade de expressão, outra tornar a conversa de café algo público.
    Detesto as generalizações, porque enlameiam toda a gente, incluindo a que está inocente. Não basta dizer, é preciso provar com exemplos concretos.
    Quando alguém vem dizer que os professores são isto ou aquilo em sentido negativo, eu não gosto, digamos assim, e às vezes apetece pedir responsabilidades a quem o diz.
    O "hacker" Rui Pinto é tratado como um herói pelos "media" nacionais; porém, quando agora foram atacados por pessoaa semelhantes, não gostaram.

    PS. Tenho familiares jornalistas e sei como muitas coisas acontecem nas redações. O próprio Rangel perdeu-se na fama e no tempo.

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  2. Rui Pinto é um assunto diferente que não tem que ver com liberdade de expressão.

    Podemos não gostar da maneira como as pessoas se expressam, podemos achá-las ofensivas, brejeiras, enganadoras, demagogas e muitas outras coisas mas a liberdade é assim mesmo: o que para uns é ofensivo para outros tem piada. A linha que separa é a calúnia, a mentira fabricada.

    Não foi este caso e sendo os 'ofendidos' juízes, tinham que pensar nos direitos dos jornalistas que lhes cabe a eles defender e não ofender.

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  3. "o que para uns é ofensivo para outros tem piada." É isso. Totalmente de acordo. Já uma vez lhe disse uma coisa parecida mas suponho que não gostou.

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  4. Não gostar faz parte da minha liberdade...

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    1. "Não gostar faz parte da minha liberdade..."
      Sim, mas agora parece que já gosta ou pelo menos ....

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    2. não me lembro do que disse...

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  5. Concordo e discordo. Quando se fala de uma entidade, generaliza-se e atinge-se todos, incluindo inocentes. Falar em "alguns elementos" contém já algum diferencial, mas continua a não especificar. Se eu faço parte do Sindicato, mas nunca me envolvi em esquemas, ao ouvir aquilo sinto-me caluniado ou apenas ofendido? Os jornalistas têm o dever de ser objetivos, imparciais e concretos, não de lançar coisas genéricas para o ar. E já estou a descontar o papel de Rangel na tentativa de lavagem da imagem do PS e de Sócrates na sequência de tudo o que vinha acontecendo desde o processo Casa Pia.
    Dizer que A ou B violam o segredo de Justiça não é ofensa, é calúnia caso não seja provado.

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  6. "O Tribunal considerou que as questões sobre as quais o requerente [Emídio Rangel] tinha falado na Comissão Parlamentar - a partilha de informações confidenciais com jornalistas para alcançar objetivos políticos - era de interesse para o público" - a questão é que pode já se ter visto as coisas acontecerem e não ter provas e por isso, dizê-lo deste modo que, embora não prejudicando ninguém em particular, noticia que há um problema de promiscuidade entre a justiça e a política e isso põe uma pressão na justiça para que investigue.

    Quando dizemos, 'os políticos estão capturados por poderes económicos' não estamos a caluniar, estamos a identificar um problema que sabemos existir mas do qual raramente temos provas do género de apanhar um politico a negociar decisões. Porém, é preciso que isso seja dito e não calunia inocentes. Aliás os políticos que não o fazem e sabem dos que o fazem t~em obrigação de falar e não falam.

    O trabalho do jornalista tem zonas de limbo onde tem de decidir se fica calado ou se fala e denuncia, mesmo não tendo, "provas concretas"

    E os juízes pedem logo aos 50 mil euros cada um, o que não é simbólico, é ganancioso.

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