January 03, 2022

Desejos para o ano que começa




Seria bom que os políticos, os psicólogos e os comentadores da comunicação social mudassem a sua linguagem ao falarem da saúde mental dos adolescentes e deixassem de usar termos como «catástrofe» ou expressões como «sequelas para a vida». Os diagnósticos de depressão catastrófica generalizada são uma constante nos meios de comunicação social e como os adolescentes são muito impressionáveis e amplificam tudo o que ouvem, interiorizam a ideia de que o seu sofrimento é uma doença que os danificou para a vida. Essa interiorização reforça o sentimento de desesperança, dramatiza as dificuldades e o próprio sofrimento.

Os médicos são educados para verem os problemas através da lupa da doença, mas a medicalização generalizada do sofrimento humano leva à perda de significado das vivências próprias da idade. A maioria dos adolescentes vive em casas pequenas, sem grande privacidade e a convivência por períodos longos, forçada pelos confinamentos, fez aumentar os conflitos familiares, já de si naturais, dado que estão numa fase da vida de construção da identidade, ainda sem grande capacidade de regular emoções: ficam tensos, irritados, emocionalmente desequilibrados, angustiados. Falta-lhes a socialização que permite a expansão emocional e vivencial, aprender a regular as emoções, a relativizar os momentos de sofrimento através dos momentos de alegria, a construir a auto-confiança. A maioria dos adolescentes não é doente, está apenas num momento de desequilíbrio.

Em vez de assustarem os adolescentes e os pais com discursos catastrofistas e de desesperança, melhorem as condições de vida das pessoas, contratem psicólogos para as escolas, melhorem a educação.

Enquanto estamos vivos, estamos sempre a respirar e a qualidade do ar que respiramos influência a saúde. Da mesma maneira, enquanto somos vivos estamos sempre a respirar o ar cultural que nos rodeia e a qualidade do ar cultural que respiramos influencia as possibilidades de vida - que se escolham e construam as possibilidades positivas.

(também publicado no blog delito de opinião)

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