January 20, 2022

A poética do espaço

 


Esta fotografia é de um dos corredores de laboratórios da minha escola. Para lá da porta corta-fogo que se vê aberta, o corredor estende-se com salas de aulas normais. Estão aulas a decorrer, mas o silêncio é total. Com as portas fechadas não se ouve mesmo barulho nenhum. Mesmo com as portas todas abertas, como agora fazemos, para arejar o ar dentro das salas, é raro ouvir-se barulho. Estamos dentro das salas concentrados no nosso trabalho e em sossego. Na escola antiga, antes das obras, durante toda a aula se ouvia o barulho das aulas adjacentes, o que levava a que falássemos todos muito alto, a que houvesse distracções constantes que interrompiam o trabalho. Numa aula, cada interrupção do ritmo de trabalho causa dano no rendimento da aula. Imensas vezes éramos obrigados a ter de vir à porta mandar calar alunos que andavam por ali. A biblioteca era pequena, a sala dos alunos era esconsa, escura e fria, os alunos fugiam de lá; agora ambas são muito amplas, muito solarengas e luminosas. A minha escola tem mais de 1400 alunos, é muito grande e tem uma falta dramática de funcionários. Apesar disso, os corredores, as salas de aulas e outras salas estão limpas, não estão 'grafitadas' ou sujas. Os alunos que não têm aulas não andam nos blocos nem nos corredores. Na escola antiga, estava tudo tão degradado que não havia segurança nos laboratórios e em muitas salas o ambiente era perigoso - tudo estava sujo e avariado e não havia uma parede ou uma mesa livre de escritos e graffiti.

Quem critica as obras que foram feitas nas escolas -uma das duas medidas positivas da Lurdes Rodrigues- não tem a mínima ideia do benefício em termos de rendimento de trabalho, em termos de saúde física e mental tanto de alunos como de professores. Fala-se agora muito da saúde mental dos alunos, mas não se faz ideia do excesso de ruído constante das escolas antes das obras e de como isso punha toda a gente, muito rapidamente, no limite do stress, já de si elevado na profissão.

Sou uma grande defensora da importância da arquitectura no rendimento de trabalho e na disposição mental das pessoas com os benefícios para a saúde que daí advêm. As obras na minha escola foram bem feitas, com materiais robustos e de baixa manutenção. 

Quando me lembro do stress que era a escola antiga, o desconforto, o barulho constante, a falta de luz, a falta de equipamentos, os buracos no chão, a instalação eléctrica sempre a falhar, as persianas que não levantavam, as mesas meio apodrecidas, as paredes das salas todas sujas, vidros partidos, no Inverno tudo encharcado porque não havia telhados para ir de uns blocos para outros, a sala de professores tão pequena que metade das pessoas ficava no jardim, as casas de banho nojentas, a sala dos alunos horrível, fria e escura, toda a gente sempre constipada e com gripe da humidade e do frio... era como se estivéssemos num país de terceiro mundo. 



Carlos Henrique Pimenta


(publicado também no blog delito de opinião)


5 comments:

  1. A intervenção que foi feita na escola onde me encontro (a mesma onde tinha estado 8 anos antes), tornou-a bem pior: menos acolhedora; menos atraente; menos luminosa; com salas exíguas e sem ventilção. As salas onde, regularmente, dou aulas têm janelas, mas que se não abrem e a temperatura chega a atingir 30 e muitos graus. Um forno!
    O material que equipa as salas é fraco e pouco resistente.

    João Moreira

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  2. A intervenção que foi feita na escola onde me encontro (a mesma onde tinha estado 8 anos antes), tornou-a bem pior: menos acolhedora; menos atraente; menos luminosa; com salas exíguas e sem ventilção. As salas onde, regularmente, dou aulas têm janelas, mas que se não abrem e a temperatura chega a atingir 30 e muitos graus. Um forno!
    O material que equipa as salas é fraco e pouco resistente.

    João Moreira

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  3. Isso é uma pena... um desperdício de dinheiro e uma frustração para quem aí trabalha, calculo. Felizmente na minha escola não foi assim e ficou radicalmente melhor. Excepto o jardim. A escola tinha um jardim lindo que agora não existe... mas por dentro ficou muito boa.

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  4. A minha tem quase 50 anos e está toda degradada. O barulho é constante porque o meio sociocultural é abaixo do limite. Cada turma é constituída por 50% de alunos de etnia. Nas turmas do sétimo cerca de um quarto dos alunos não aparece nas aulas durante meses. Na minha escola, 95% dos professores anseiam pelo dia em que possam abandonar o ensino.

    Há mundos e mundos.

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  5. Na minha escola e parece-me que em todas a maioria dos professores anseia pelo dia em que possam abandonar o ensino. Um professor, nos tempos que correm, passa o dia a 'levar pancada': do governo, do Ministro e SE da tutela, dos jornais, dos ignorantes que pululam por aí pelas redes sociais...

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