Rui Tavares diz a escolha de JKM foi um erro de percepção. O que se depreende da entrevista dele é que ela parecia prestar mas afinal não prestava. Portanto, o erro não foi dele, mas dela que o enganou, por assim dizer: mostrou-se de uma maneira e afinal era outra. No entanto, não diz porque a escolheu. Só que nós percebemos muito bem.
Escolheu-a por demagogia eleitoralista -uma mulher, de origem africana. Com certeza esperava que ela fosse dócil e manipulável. Isso saiu-lhe mal.
Porque é que digo que Tavares a escolheu por demagogia eleitoralista? Porque escolhe para deputada, sabendo que iria estar sozinha no Parlamento a representá-los, uma pessoa sem nenhuma experiência, nem parlamentar nem política, nem sequer de intervenção pública. Ela tem, no seu currículo, para além da formação académica, "editora de um boletim informativo, escrita de recensões de livros, de prefácios e pós-fácios e publicação de artigos e contos". Não é o que esperamos ver no currículo de uma pessoa que vai assumir sozinha a representação parlamentar de um partido que se estreia na AR.
Portanto, Rui Tavares escolheu-a para captar os votos das mulheres, dos portugueses africanos e de outros que se sentem marginalizados na sociedade e pensou que podia manobrá-la a seu gosto. Ela é doutorada em história ele é professor de história, não sei se foi seu orientador... devem conhecer-se do meio académico onde ele tem uma categoria superior à dela e pensou que isso bastava para que ela aceitasse ser o seu moço de fretes.
Aqui do meu bloguezinho pequenino deixe-me lembrar umas regras básicas quanto à intervenção pública: quando se é um grupo muito pequeno e se quer fazer mudanças sociais, são necessários três aspectos: coerência, persistência e integridade. As pessoas verem que a defesa das ideias é feita com coerência, verem persistência e lealdade na defesa dessas ideias e verem integridade. É assim que vão arrebanhando seguidores e apoiantes. Ora, neste assunto, foram visíveis, a incoerência e a falta de integridade do Livre que promoveu a Joacine para ganhar votos - isto sem desmerecer da JKM que podia ser muito boa em muita coisa mas não tinha nenhum perfil para o cargo. Era mesmo só para ir buscar votos a certos meios, o que fez.
Os exemplos que Tavares dá, do PAN e do BE só reforçam o que digo porque são casos idênticos - o BE tinha um historial de coerência, persistência e integridade na defesa das suas ideias (mesmo que não concordemos com elas) e depois começou a fazer cedências eleitoralistas e deixou de se diferenciar dos outros partidos e os votos vierem por aí abaixo. O PAN é uma caso de total incoerência com o que defendem. Em grupos muito pequenos, um caso de incoerência e falta de integridade tem uma peso muito grande na percepção da totalidade do grupo.
O caso da IL parece-me diferente porque foi o próprio candidato que se retirou para não fazer a figurinha da ministra da justiça que levou 6 anos a perceber que não devia ter aceite o cargo, de modo que aprece como um caso de integridade.
Portanto, estas respostas de Rui Tavares não convencem.
(...)
Fala-me do conflito com JKM. Muito bem. O PAN tem uma queixa contra a sua ex-deputada Cristina Rodrigues (coisa que o Livre não fará) e teve um conflito e perdeu o seu único eurodeputado. A IL teve um candidato a Lisboa que retirou três dias depois. O BE retirou agora a confiança a um autarca que fez uma aliança com o Chega. Não se fixem no Livre. Os jornalistas podem escolher, ou não, amplificar as bocas que são mandadas nas redes sociais por pessoas interessadas.
"Escolheu-a por demagogia eleitoralista -uma mulher, de origem africana. "
ReplyDeleteConcordo.
Há quem pense (parece) que basta ser mulher, preta (homossexual etc.) para ser o que interessa. Erro. Eu penso que para fins políticos o que interessa é a ideologia. Por norma penso que o importante é a capacidade para a tarefa em causa. Por isso sou contra as quotas. Poderia admitir uma excepção: quando uma pessoa é escolhida para satisfazer as quotas que se torna-se isso público. Assim: esta senhora foi escolhida por ser mulher ou este senhor foi escolhido por ser preto. Ficávamos a saber....
João
Não concordo com o termo, «preta» que acho racista.
ReplyDeleteQuanto às quotas, há muitos, mas muitos estudos que mostram que elas existem desde sempre só que não estão escritas. Quando se enviam currículos para as empresas identificando os homens e as mulheres, são escolhidos sempre os homens; se enviarmos os mesmos currículos sem identificar quem são uns e outros, são escolhidos tantos homens como mulheres; se enviarmos os mesmos currículos, identificando erradamente os homens como mulheres e vice-versa, escolhem os de mulheres pensando que são homens. Nas orquestras isso tornou-se tão óbvio (que só havia homens) que passou a fazer-se provas escondidos por uma ecrã para que o júri não veja se os músicos são homens ou mulheres e passaram a ser escolhidos tantos como mulheres.
Portanto, as quotas existem, não escritas, a favor dos homens e para quebrar esse preconceito são precisas quotas escritas, a favor dos que são sempre discriminados. E é por isso que sou a favor de quotas.
"Não concordo com o termo, «preta» que acho racista."
ReplyDeleteDiscordo.
Pensar que mencionar a verdadeira cor de uma pessoa é ofensa é que é racismo. Ser preto não é inferioridade. Mas fazer de conta que não se nota que um preto é preto....leva água no bico.
A mim podem-me chamar branco ou o que quiserem. Já ouvi um preto referir-se à cor de outro (com o qual estava seriamente zangado) chamando-lhe "preto da m**da". Seria racismo? Eu acho que era simples falta de educação.
João
"Quanto às quotas, há muitos, mas muitos estudos que mostram que elas existem desde sempre só que não estão escritas."
ReplyDeleteHá uma infinidade de regras não escritas que nunca conheceremos. Há uma regra, esta escrita, que perdurou durante milhares de anos (e ainda é válida) que dizia que só os homens participariam nos horrores da guerra (eu que o diga, que fui obrigado a participar na guerra colonial). Pelas quotas não vamos lá, é atacar as aparências para que o essencial fique na mesma. É como, por vezes, na medicina: atacar os sintomas e deixara doença progredir. Quando alguém for escolhido para satisfazer as quotas, isso deve ser referido (sou pelo rigor): entra pelas quotas e não pela capacidade.
João
«Há uma infinidade de regras não escritas que nunca conheceremos» - pois mas esta conhecemos e portanto, não vamos fingir que não conhecemos.
Delete«Pelas quotas não vamos lá, é atacar as aparências para que o essencial fique na mesma.» - isto é uma declaração de princípios que nada quer dizer.
«É como, por vezes, na medicina: atacar os sintomas e deixar a doença progredir.» - na medicina, quando não se sabem as causas tratam-se os sintomas para o doente não morrer. O doente está com 40º de febre. Mesmo sem saber de que doença, baixa-se logo a febre, não? Não se diz, 'não vamos tratar o sintoma até saber da doença' porque entretanto o doente morre. Daí não se segue que se deva abandonar a procura das causas.
«Quando alguém for escolhido para satisfazer as quotas» não significa ser escolhido arbitrariamente, sem critério, como são são escolhidos tantos homens. Significa ir aos melhores das minorias.
"ser escolhido arbitrariamente, sem critério, como são são escolhidos tantos homens. "
DeleteFoi o que me calhou a mim quando me escolheram para a tropa. Foi sem critério e acabei por ajudar a perder a guerra.
As palavras têm uma história que as marca e uma evolução. É por isso que existe uma ciência chamada «etimologia».
ReplyDeleteA palavra «nacionalista, por exemplo, não designa meramente a «verdade» de se pertencer a uma nação. Tem outras conotações, consequência do modo como foi usada no passado, por grupos fundamentalistas.
Da mesma maneira, a palavra «preto» tem conotações racistas devido ao modo como era usada pelos colonizadores racistas: um modo intencionalmente depreciativo para indicar inferioridade. A palavra carrega o peso dessa utilização.
A expressão, «verdadeira cor» nem sequer faz sentido.
Finalmente, o facto de indivíduos negros se referirem uns aos outros como «pretos» é diferente de outros se lhes referirem desse modo. É evidente que um branco não se ofende de lhe chamarem, «branco» ou «branquelas» porque nunca foi alvo de actos de racismo por ser branco.
Um alentejano conta anedotas de alentejanos e tem piada porque é um olhar de dentro, mas se um não-alentejano conta piadas de alentejanos a alentejanos é ofensivo porque tem uma intenção depreciativa de lhes chamar atrasados; da mesma maneira que um alemão pode contar piadas de nazis a outro alemão mas se for um não-alemão é ofensivo porque é depreciativo.
Há um par de anos, um colega, para me diferenciar positivamente em relação a um assunto que estávamos a falar, disse, 'mas a Beatriz não conta porque é como um homem'. Ele disse aquilo, convencido que estava a fazer-me um elogio, não se apercebendo que o que ficou óbvio foi que considera que certas atitudes ou modos de ser, no seu entender melhores são, naturalmente, masculinas.
Portanto, sim, um africano chamar «preto» a outro tem um significado, mas se for eu chamar tem outro significado diferente. Depreciativo. A não ser que eu seja completamente ignorante da história e da realidade à minha volta e não perceba nada de nada como uma criança muito pequena. E então chamo qualquer coisa sem perceber o que estou a fazer.
Por isso, o termo em questão é racista.
" mas se um não-alentejano conta piadas de alentejanos a alentejanos é ofensivo porque tem uma intenção depreciativa de lhes chamar atrasados" !!!!!!
ReplyDeleteFaço isso frequentemente. Vou passar a ter mais cuidado.
Ahahah
DeleteSe não pudermos "ofender" ninguém acaba-se o humor. Sou a favor do humor (e do cáustico).
ReplyDeleteAhahahah isso foi demasiado cómico :))))
ReplyDelete" isso foi demasiado cómico" Isso o quê? Sou conhecido entre os amigos por fazer humor mas agora não percebo em que é que fiz rir.
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