November 29, 2021

"Estudos" sobre a educação: a notícia está mal escrita ou é o próprio "estudo"?




O título diz-nos que um estudo mundial foi realizado em Sintra. Logo a seguir diz que foi apenas apresentado em Sintra e que escolas desse concelho fizeram parte do tal "estudo". Portanto, foi realizado em Sintra ou apenas apresentado? Não se percebe.

Entretanto o "estudo" conclui que as «competências» dos alunos decrescem ao longo do percurso escolar e cita, como exemplos, a criatividade e a curiosidade dos estudantes. Só que a curiosidade e a criatividade não são competências. 

A competência, aplicada à educação, à pedagogia, é uma habilidade, uma aptidão, um saber-fazer que pressupõe conhecimentos, informações, procedimentos, métodos, técnicas. 
É capaz aquele que sabe seleccionar conhecimentos e técnicas adequadas para resolver um problema. 

Já a criatividade é um processo de originalidade, seja nas ideias seja na sua concretização. Desenvolve-se, mas não é uma técnica que possa ensinar-se. É uma qualidade imprecisa, difícil de definir. Está muito ligada à imaginação e à inteligência divergente. A curiosidade, que também pode desenvolver-se, é outra qualidade que não consiste, nem em conhecimentos nem em técnicas.

Portanto, tendo em conta que o "estudo" fala em decréscimo de competências e depois cita outro tipo de qualidades, ficamos na dúvida sobre os critérios e competência dos que fizeram o "estudo" ou, sobre a competência de quem relata o "estudo".

Depois, Basílio Horta, grande «competente» nos assuntos da educação conclui que os alunos querem ir ao cinema (isso faz parte do estudo e a notícia não o diz ou é uma conclusão dele? Não se percebe...) e que a escola destrói os talentos, pressupondo que os alunos vêm até à escola cheio de talentos e que nós professores destruímos essa genialidade toda. 

Também assume que são as escolas que fazem os alunos não querer prosseguir estudos. Como se a pobreza crescente das famílias e os alunos saberem muito bem que mesmo com um curso, quem não tem cunhas não vai longe e, mesmo que consiga um emprego é a ganhar o salário mínimo, não jogassem um papel nessa falta de interesse em continuar a estudar. Nem falo no custo dos cursos. É preciso querer muito e para querer muito é preciso que aquilo compense, de uma maneira ou de outra.

Agora uma coisa é verdade: esta escola dos mínimos essenciais reduzida ao saber-fazer para que todos possam passar sem trabalho e o Estado poder depois apresentar resultados bombásticos, não ajuda a desenvolver a criatividade e a originalidade.


Estudo mundial realizado em Sintra revela decréscimo de competências ao longo de percurso escolar


O estudo foi apresentado esta sexta-feira em Sintra e analisou as competências sociais e emocionais de milhares de alunos, de 10 e 15 anos, em 10 cidades de todo mundo.

O decréscimo da criatividade e da curiosidade dos estudantes ao longo do percurso escolar foi um dos problemas detetados num estudo mundial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que em Portugal analisou escolas de Sintra.

O estudo foi apresentado esta sexta-feira em Sintra e analisou as competências sociais e emocionais de milhares de alunos, de 10 e 15 anos, em 10 cidades de todo mundo, concretamente de Portugal, Itália, Finlândia, Turquia, Rússia, Coreia do Sul, China, Canadá, Estados Unidos e Colômbia.

Para aferir os resultados e conclusões procurou-se avaliar as respostas dos alunos participantes a um inquérito, dos encarregados de educação e dos professores.

Em Portugal, o estudo incidiu em 79 escolas do concelho de Sintra, no distrito de Lisboa e abrangeu 3.855 alunos de 10 e 15 anos.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, manifestou-se preocupado com as conclusões deste estudo que, segundo o autarca, deve “merecer uma reflexão nacional por parte das escolas e sobre o modelo de ensino”.

Em Sintra, e não deverá ser muito diferente no resto do país, apenas 60% dos adolescentes de 15 anos relataram que esperavam continuar a estudar e completar um grau superior. Para lhe dar uma ideia, na cidade de Suzhou, na China, são 91%. Então porque é que o desenvolvimento da escola em vez de abrir perspetivas aos alunos e desejar que eles prossigam, pelo contrário, levam-nos a abandonar o desejo de continuar a estudar?”, questionou.

No entender de Basílio Horta, “o problema é que a escola se tornou apenas uma fonte de conhecimento e ignora o talento”.

“Os jovens querem tocar música, querem conhecer cinema, teatro, literatura. Isto em termos nacionais é uma perda completa. Uma perda de talentos”, alertou.

Outra conclusão deste estudo que preocupa o autarca de Sintra é o facto de os jovens de 15 anos apresentarem “capacidades sociais e emocionais inferiores aos de 10 anos”, existindo “um decréscimo da criatividade e da curiosidade dos alunos” à medida que vão avançando no seu percurso escolar.

“Em vez de a escola suscitar o interesse diminui-lhes o interesse. Temos de saber porquê!”, sublinhou.

A questão do ‘bullying’ também foi abordada neste estudo da OCDE que, no caso de Sintra, aferiu que 37% dos estudantes com 10 anos e 13% com 15 anos tinham sido alvo de violência durante o período anterior ao inquérito (2019), concluindo que estes jovens apresentam níveis “mais baixos de otimismo, controlo emocional, resistência ao stress e confiança noutras pessoas”.

Em Portugal, o estudo resultou de uma parceria entre o Ministério da Educação, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Câmara Municipal de Sintra.


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