October 02, 2021

Uma palavra - Petrichor




A palavra é construída a partir do grego «petra» (πέτρα), "pedra", ou petros (πέτρος), "pedra", e «īchōr» (ἰχώρ), o fluido que corre nas veias dos deuses, segundo a mitologia grega antiga.

Na cidade indiana de Kannauj, os perfumistas criam, desde há séculos, um odor chamado, mitti attar. De Abril a Maio, os trabalhadores extraem blocos de barro ressequido do chão. Os blocos são cozidos no forno, em discos e depois aquecidos em destiladores de água. Quando a argila atinge a temperatura certa, o vapor liberta lentamente o cheiro da terra. Esse vapor é capturado e destilado em cubas de óleo de sândalo, a base do perfume. O cheiro que é libertado é petrichor, o cheiro de terra seca após a chuva, um odor mineral penetrante com uma pitada de acidez. Em Kannauj, este é o cheiro do preciso dia em que meses de calor seco dão lugar às monções.

A palavra de origem grega, petrichor, que significa "sangue de pedras", foi cunhada em 1964 por dois cientistas australianos, Isabel "Joy" Bear e Richard Thomas, que investigavam esta substância e a sua finalidade. Como parte do seu trabalho, os cientistas extraíram um óleo dourado de uma variedade de solo: areia, terra, argila. Perceberam que as plantas segregam estes ácidos gordos, na sua maioria ácidos palmíticos e esteáricos, para o solo e que essas secreções concentram-se entre as chuvas. 
Após o fim de uma seca, as plantas têm frequentemente um surto de crescimento, pelo que Bear e Thomas suspeitaram que Petrichor era um fertilizante. Acontece, porém, que se trata de uma defesa. As plantas segregam os ácidos gordos para retardar o crescimento das plantas próximas, reduzindo a competição, quando a água é escassa.

Petrichor emana de milhões de gotas de chuva que caem de uma só vez, dando a este cheiro uma qualidade estereoscópica. 
Em 2015, uma equipa de cientistas do MIT determinou como o odor, petrichor chega aos nossos narizes. Utilizando câmaras de alta velocidade, observaram que quando uma gota de chuva atinge uma superfície porosa, aprisiona pequenas bolhas de ar no ponto de contacto. Num vídeo em câmara lenta, é possível ver uma gota de chuva a atingir uma superfície. A gota assume brevemente a forma de um donut, depois achata-se num disco. Gotas infinitesimais sobem do disco como pirilampos a zumbir sobre um lago. Essas gotículas levantam petrichor do solo, infundindo o ar.

Petrichor lembra-nos a ideia de que o cheiro é o que acontece quando uma substância se torna aerotransportada. No caso do petrichor, essa substância é um óleo dourado, segregado no solo por plantas rivais. Os cheiros penetram o ar e conferem-lhe personalidade.

Petrichor também nos lembra que o ar é tridimensional. A quietude do ar após uma chuva é monumental, pungente e temporária. (Imagine Petrichor como um cubo dourado de ar acima do solo, tremendo como gelatina perfumada de âmbar). À medida que se cheira, observa-se uma mudança que acontece aqui e agora. Com o odor petrichor, é particularmente perceptível. Cada cheiro prende um momento no espaço e no tempo, tendo-nos a nós -os capazes de cheirar- como sua testemunha.


No comments:

Post a Comment