Enfim, com um dia de atraso. 150 anos desde o seu nascimento em 1871.
(Phenomenology and Continental Philosophy)
O grande escritor produziu numerosos poemas e diálogos que exploraram uma série de questões filosóficas, geralmente com mais perspicácia e insight do que os seus filósofos 'profissionais' contemporâneos.
Da sua ode ao corpo (por oposição à mente, no debate mente-corpo) e o sentido do gosto que acompanha ter um corpo:
Ó corpo meu, que me recordas a cada momento este temperamento das minhas tendências, este equilíbrio dos teus órgãos, estas verdadeiras proposições das tuas partes, que te fazem ser e estabelecer-te sempre de novo no próprio coração das coisas em movimento; vigia o meu trabalho; ensina-me secretamente as exigências da natureza e dá-me essa grande arte, com a qual és dotado como por ela foste feito, de sobreviver às estações e de te salvar dos incidentes do acaso. Concede-me encontrar na tua aliança o sentimento do que é verdade; temperar, fortalecer, e confirmar os meus pensamentos. Perecível como tu és, és muito menos do que os meus sonhos.
Ó corpo meu, que me recordas a cada momento este temperamento das minhas tendências, este equilíbrio dos teus órgãos, estas verdadeiras proposições das tuas partes, que te fazem ser e estabelecer-te sempre de novo no próprio coração das coisas em movimento; vigia o meu trabalho; ensina-me secretamente as exigências da natureza e dá-me essa grande arte, com a qual és dotado como por ela foste feito, de sobreviver às estações e de te salvar dos incidentes do acaso. Concede-me encontrar na tua aliança o sentimento do que é verdade; temperar, fortalecer, e confirmar os meus pensamentos. Perecível como tu és, és muito menos do que os meus sonhos.
— 'Eupalinos ou o Arquitecto', Oeuvres de Paul Valéry
O homem que come, dizem os meus lábios, alimenta os seus próprios bens e males. Cada pedaço que ele sente derreter e dissipar dentro dele traz nova força às suas virtudes, mas também - indiferentemente - aos seus vícios. Dá sustento aos seus tormentos tal como engorda as suas esperanças; e está dividido algures entre paixões e razões. O amor precisa dele, tal como o ódio; e a minha alegria e a minha amargura, a minha memória juntamente com os meus projectos, partilham entre eles, como irmãos, a própria substância de um e a mesma boca cheia.
O homem que come, dizem os meus lábios, alimenta os seus próprios bens e males. Cada pedaço que ele sente derreter e dissipar dentro dele traz nova força às suas virtudes, mas também - indiferentemente - aos seus vícios. Dá sustento aos seus tormentos tal como engorda as suas esperanças; e está dividido algures entre paixões e razões. O amor precisa dele, tal como o ódio; e a minha alegria e a minha amargura, a minha memória juntamente com os meus projectos, partilham entre eles, como irmãos, a própria substância de um e a mesma boca cheia.
— "Dança e a Alma", Oeuvres de Paul Valéry
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