October 20, 2021

A morte não é nada face ao nascimento

 


O nascimento é de uma tremenda violência. 

Hoje, no intervalo entre o fim das aulas e a reunião de pais, uma colega veio mostrar-me um vídeo. Tinha sido avó pela primeira vez, aí pela hora do almoço. Então o filho, que é o pai, filmou o bebé assim que as enfermeiras lhe pegaram para o limpar e vestir aquelas cenas (cueiros ou lá como se chama, já não me lembro) e enviou logo o filme à mãe - aquilo foi quase um parto em directo. O bebé, acabadinho de chegar ao mundo exterior chorava e abria os braços como se estivesse desequilibrado de cada vez que lhe pegavam e viraram para vestir. Depois parava de chorar enquanto ajeitavam a roupa e voltava a chorar quando lhe enfiavam o braço noutra roupa ou punham uma fralda. Muito perfeitinho e sem nenhuma marca porque nasceu de cesariana. Portanto, nem sequer passou por essa violência de ter que se expulsar de onde não quer sair, mas quer dizer, estar muito quentinho num ambiente conhecido de meses e de repente tirarem-no, os pulmões encherem de ar -deve doer, sei lá- pessoas a tocarem, coisas em cima da pele, luzes fortíssimas em cima dos olhos, barulhos que devem soar estridentes. Uma desorientação e medo. Estava a ver aquilo e a pensar, 'que violência!'. A apresentação ao mundo é uma grande violência.



1 comment:

  1. Mas, depois, ficam sossegadinhos e aninhados no colinho😊

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