September 17, 2021

Se tivesse que caracterizar a evolução da educação nestes último 15 anos




A Mª de Lurdes Rodrigues fomentou a guerra nas escolas - pôs professores contra professores, pais contra professores e alunos contra os professores. A escola que era um lugar eminentemente pedagógico, passou a ser um lugar jurídico e minado com guerrilhas - para isso, arregimentou toda a comunicação social, todos os políticos de todos os quadrantes e os professores do ensino superior. Ficámos a saber que toda essa gente tem raiva e ódio aos professores e nos culpam de tudo o que vai mal no mundo. Para mim foi uma surpresa. Esse clima de guerra destruiu o ambiente das escolas que era dinâmico e, mesmo na conflitualidade, era positivo em termos de colaboração. Discutíamos todos uns com os outros acerca das medidas pedagógicas mas havia entusiasmo, convicção, desafio. Também foi ela quem retirou a democraticidade da gestão das escolas. Fazia parte da estratégia de pôr uns professores contra outros: a uns poucos deu um chicote e subornos em títulos e recompensas para que submetessem os outros. Esse esquema de chicote foi parcialmente revertido, mas essas pessoas que se dispuseram a maltratar os colegas, nunca mais saíram dos cargos, ainda lá estão e todos os ministros que vieram depois não resistiram a manter esse sistema de garrote que lhes facilita a vida mas destrói a educação. Nunca mais houve colaboração nas escolas, a não ser entre professores em particular - este e aquele que se dão bem e colaboram um com o outro. Os grupos disciplinares que eram a alma das escolas, onde se fazia o trabalho pedagógico e o desenvolvimento curricular apodreceram completamente e foram substituídos por uma burocracia infértil.

Isabel Alçada travou esse sistema de chicote mas a guerra já se tinha instalado e já corroía e ela não teve força para ir mais longe e reverter o processo de esvaziamento do trabalhos dos grupos e dos professores. Deixou a gestão anti-democrática tal como a encontrou.

Nuno Crato reverteu algumas das más medidas curriculares  e anti-pedagógicas da Rodrigues, mas não resistiu à gestão anti-democrática e até a reforçou. Isso é um cancro que se alastrou e destrói tudo. Também tinha o discursos dos professores serem a causa de todos os males.

O SE Costa (não me refiro ao ministro porque não passa daquilo que no cinema se chama, the male unit) não só abraçou o sistema anti-democrático da Rodrigues como o reforçou de maneira que passámos da guerra ao marasmo desértico. Quando ainda havia guerra na escola, isso significava que havia professores 'vivos' que não se conformavam com a decadência do sistema e falavam e denunciavam aguerridamente. Isso praticamente desapareceu e o que temos agora é uma paz podre em que todos fingem colaborar mas ninguém está para se incomodar por algo que já não acreditam e que só lhes traz dissabores, punições, atrasos na carreira, vinganças, tudo implícita ou explicitamente apoiado pela tutela. Costa tem um enorme preconceito contra os professores que não consegue disfarçar. Pensa que somos todos pessoas que não querem fazer nada. 

Em suma, a Rodrigues fomentou a guerra e o ressentimento entre os professores e o Costa transformou a educação num deserto árido.

As coisas são muito piores do que as pessoas pensam e sabem e só não são piores para os alunos porque a maioria dos professores interessa-se pelos alunos.

Nuno Crato: "Desenvolver o sentido crítico no vácuo é uma ideia perigosa. Sem conhecimento estamos a desenvolver fala-barato

4 comments:

  1. E a Rodrigues também arranjou uma coisa chamada "professores titulares"....e foi ver os egos de certas pessoas a atingirem a estratosfera...
    Na minha escola, quando isso acabou, felizmente, foi vê-los a cair dos escadotes. Alguns ainda hoje estão zonzos do tombo que levaram!

    ReplyDelete
  2. Então, mas os titulares são aqueles a quem ela deu chicote para maltratarem os colegas. Foi isso que pôs uns contra outros. Na minha escola estão todos nos mesmos cargos... e em outras escolas também.

    ReplyDelete
  3. Diria que 8 de março de 2008 foi o estertor da nossa classe. Fiz centenas de km para ir a Lisboa fazer parte daquela manifestação. Foi uma festa de convívio e de protesto. Nunca tinha feito greve até aí porque eram todas por motivos económicos. O meu pai, na década de 90, recebia 70 contos, a minha mãe vendia leite de vaca porta a porta para ajudar a pagar o meu curso. Por isso, não fazia greve.
    Depois de 2008, fiz várias, mas terminei há três anos, salvo erro, quando me senti traído pelo Nogas e pelos meus colegas de escola. Perdi centenas de euros, mas jamais me arrependi. Só perde verdadeiramente quem não luta. Nessa altura, representava o meu departamento no Conselho Pedagógico. Demiti-me, como sinal de discordância de tudo o que estava a acontecer...

    Após 2008, a classe docente morreu. Hoje, está envelhecida, conformada, apática e sem forças. A maior parte já só quer chegar à reforma.

    Há 6 anos os meus colegas tiveram a infeliz ideia de me voltar a eleger. Neste espaço de tempo, já tive umas 3 ou 4 discussões violentíssimas com a minha diretora nas reuniões de CP. Exaltei-me, disse o que queria e não queria, em tom fora de tom. Numa dessas ocasiões, a reunião prolongou-se pelo período da tarde, tal foi a festa. Porquê? Porque sua excelência diz frequentemente que, se os alunos não aprendem, têm negativa e reprovam, a culpa é dos professores. Eu faço um esforço enorme para não intervir, porque estou cansado e desgastado e quero preservar a saúde, porém, quando levanto o olhar e vejo 12 pessoas de cabeça baixa a levar pancada sem reagir, acabo por tomar a palavra e reagir. Tenho vergonha ao rever neles a minha postura.

    Peço desculpa por ter transformado o meu comentário num exercício de egotismo e narcisismo até. Mas parece-me que falei de coisas que exemplificam o triunfo de Maria de Lurdes Rodrigues. A reitora ganhou e todos nós perdemos.

    ReplyDelete
  4. Vidas difíceis...

    Gostei do 'Nogas' :) teve piada.

    ReplyDelete