September 06, 2021

Estes discursos já deram mau resultado no passado mas ressuscitam-nos



(...) de uma pergunta sobre a exclusividade dos médicos no SNS (que faz parte do programa do Governo e deverá ser mais uma vez um dos pontos quentes do OE 2022 na área da Saúde) [Manuel Heitor] meteu no mesmo barco vários temas num registo de conversa de café, sugerindo que o problema da falta de médicos no SNS se poderia resolver com formação mais curta porque um médico de família não precisa da mesma duração de formação de um especialista em oncologia (que já é diferente).

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Este discurso faz lembrar o discurso na educação, quando se defendia que se podia poupar na formação de professores diminuindo os anos da sua formação: para que é que um professor de... biologia, por exemplo, precisa de uma licenciatura se pode tirar um curso, só com as matérias que vai ensinar?

Seguidamente a estas ideias surgiram cursos que formavam professores que pouco sabiam da ciência que ensinavam: era só aquele pedacinho necessário para ensinar aqueles assuntos. 

É claro que isto tem por detrás uma ideia -muito errada- que ensinar é transmitir umas informações sobre uns temas que a pessoa tem decorados e todos os anos recita como uma peça de teatro e, também é claro, que este tipo de curso de ensino de professores, formados para não ter muito dentro das suas cabeças, está muito longe dos discursos de excelência que os políticos vomitam sem compreenderem, só porque a palavra em si parece dar um tom de qualidade e exigência ao que a profere.

No meu tempo, primeiro tirávamos uma licenciatura que era igual para todos. Depois, se queríamos ir para o ensino, fazíamos um curso de especialização que durava dois anos. Hoje em dia, mesmo os cursos que não são, 'ensino de isto ou aquilo', os tais que são reduzidos, têm a especialização integrada na licenciatura, e chamam-lhes mestrados. No entanto, tiveram menos anos de formação do que eu e todos os que se licenciaram antes de Bolonha e só depois da licenciatura fizeram os dois anos da especialização. Isso faz diferença...  na cultura de conhecimento, no interesse pela ciência que se ensina, etc. Tudo isto afecta os alunos, evidentemente.

Este discurso miserabilista é o que faz lembrar: vamos lá formar médicos de família de 2ª categoria, baratinhos, ali em dois ou três aninhos. Um médico de família é, supostamente, o primeiro contacto que a pessoa tem com um analista da sua doença, que pode ser grave e requer alguém com uma boa formação para o reconhecer e encaminhar a pessoa. Quem é que quer um médico de 2ª categoria que aprendeu umas coisinhas à pressa?

2 comments:

  1. Isso faz-me lembrar quando a cadeira de Anatomia, mais conhecida por cadeirão, passou a semestral do 1° ano do curso de Medicina quando sempre foi uma cadeira anual do 1° e do 2° anos.
    Felizmente que a minha filha ainda a teve durante dois anos....

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  2. para porem toda a gente na universidade têm que baixar o nível dos cursos... já o fizeram nas escolas e agora fazem nas universidades.

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