August 25, 2021

Uma palavra, ou melhor, uma expressão - «Carga alostática»

 



"Carga alostática é a razão psicológica do nosso cérebro pandémico enevoado" lê-se na manchete de uma história de 27 de Abril de Emily Baron Cadloff para a Vice
Cadloff traduz a expressão: "Estou a fazer muito menos do que estou habituado e estou tão cansada..." Está longe de estar sozinha durante este período de isolamento e ansiedade.

Diagrama de carga alostática via ResearchGate


Nunca tinha encontrado «carga alostática» antes da pandemia, e agora vejo-a, assim como «sobrecarga alostática» um pouco por todo o lado. É uma forma de dizer "stressada" que foi cunhada, sem surpresa, por um par de académicos, Bruce McEwen e Eliot Stellar. 
Em 1993, McEwen (um neurocientista) e Stellar (um psicólogo) publicaram um artigo no Journal of the American Medical Association que descrevia "o custo oculto do stress crónico para o corpo durante longos períodos de tempo" e definia a carga alostática como "o custo da exposição crónica a uma resposta neural ou neuroendócrina flutuante ou elevada resultante de um desafio ambiental repetido ou crónico a que um indivíduo reage como sendo particularmente stressante".

McEwen e Stellar cunhavam a expressão a partir de um termo mais antigo, «alostasia», que tinha sido introduzido em 1988 por Peter Sterling e Joseph Eyer da Universidade da Pensilvânia. 

Allostasis - de grego prefixo ἄλλος, (Állos), outro, diferente + o sufixo στάσις, (estase), ficar parado - é a contrapartida da homeostasis -do grego antigo ὁμοιοστάσις (homoiostásis) igualdade, empate, equilíbrio-, termo dos anos 20 do século passado. Em fisiologia, a «homeostase» é a manutenção de condições constantes, como a temperatura corporal; a «alostase», de acordo com Sterling e Eyer, é um processo contínuo de reacção e adaptação às mudanças no ambiente. Quando as mudanças são demasiado frequentes ou demasiado severas, a carga torna-se desequilibrada.

O prefixo alo- aparece em muitos contextos científicos, embora nem sempre seja claro que significa "diferente do habitual". A alopatia, por exemplo, do prefixo grego ἄλλος, (állos), outro, diferente + o sufixo πάϑος, (páthos), sofrimento, são termos criados no início do século XIX por Samuel Hahnemann, o fundador da homeopatia, como sinónimos de medicina convencional; a homeopatia (a prática de "curar com o semelhante") é a mais antiga, pelo menos nos EUA.

Na linguística, um alofone é um de um conjunto de possíveis sons falados (telefones) usados para pronunciar um único fonema. Um alónimo ("outro nome") é um tipo de nom de plume que é emprestado a uma pessoa histórica. (Exemplo: Alexander Hamilton, John Jay, e James Madison escreveram os Federalist Papers sob o alónimo Publius "em honra deste oficial romano pelo seu papel na criação da República Romana").

Allo- também se esconde em alergia, a forma inglesa de palavra alemã, que foi cunhada em 1906 pelo médico austríaco Clemens Peter Freiherr von Pirquet para descrever "uma reacção acentuada a um antigénio ao qual um indivíduo foi anteriormente exposto". A parte -érgica da palavra vem de uma raiz grega que significa "actividade", como em "energia".

Bruce McEwen, que cunhou a expressão, «Carga alostática», em 1993, morreu aos 81 anos de idade em 2 de Janeiro de 2020, pouco antes da pandemia a ter vulgarizado. O obituário de McEwen no NYT dizia que no final da sua carreira o Dr. McEwen tinha expandido a sua pesquisa para analisar o impacto do stress nas comunidades, descobrindo que o stress crónico afecta desproporcionalmente as pessoas marginalizadas e aumentava o seu risco de doenças.

fonte: /nancyfriedman. (com adaptações)

Para ler mais sobre a Carga Alostática:  https://estudogeral.pdf (páginas 23, 24)

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