August 10, 2021

Os reducionismos, nas regras de vida, são sempre perigosos

 



O utilizador do Twitter Drivingmemadi, também conhecido como Madimoiselle, pediu recentemente aos seus seguidores que partilhassem pelo menos uma coisa que aprenderam na terapia. "Se todos partilharem uma coisa que aprenderam na terapia, todos nós podemos ganhar discernimento". O seu tweet teve resposta esmagadora à medida que milhares de neozelandeses partilharam conhecimentos que tinham adquirido na terapia. 

Fui espreitar. Todas as partilhas são 'um bocadinho ao lado', como se estivessem incompletas. Quer dizer, à primeira vista parecem bons insights mas vemos imediatamente falhas importantes - por exemplo, uma grande maioria delas refere-se a induzir a pessoa a sentir-me bem consigo e com os seus erros de uma maneira que relativiza tudo: somos humanos, erramos, pronto. [pergunto a mim mesma se Cabrita andou nesta terapia de, 'epá, sim morreu uma pessoa porque ia depressa demais, pronto, sou humano e erro. Aceito. Não vou agora massacrar-me com isso e muito menos responsabilizar-me'. Não apresenta caminhos ou maneiras de sair de situações. Outra que aparece muito é a de que não há más decisões porque tomamos sempre a melhor decisão que na altura éramos capazes de tomar. Que disparate. Penso logo na decisão de andar a mais de 200km/hora. Quem pode dizer que na altura era a melhor decisão baseada nos factos que se conheciam? Ninguém. 
O que significa, não que a terapia seja uma colecção de frases de senso comum tipo pep talk, mas que nenhum processo terapêutico se pode resumir numa frase e também que a terapia só faz o caminho das emoções: conhecer, arrumar e controlar as emoções. 

Um dos tweets diz:
when people are unwilling to change or work with you to get better results its not your burden to take. you’re only responsible for yourself & what you can do in the future, so if moving away or distancing yourself is the necessary step- do that & DONT fester in guilt
Se eu confiasse neste conselho e o levasse a sério não trabalhava com quase nenhum aluno. Nem o analista com o doente. Nem o amigo com o amigo. Para além de que esta frase de só sermos responsáveis por nós mesmos dá a entender que não vivemos num mundo onde outros também vivem e outros vão herdar. Por conseguinte, esta frase, que parece um conselho razoável tem mais contra-indicações que a papeleta do medicamento da químio. Basta pensar na Covid-19 e em todos que recusam tomar medidas e colaborar.
Os reducionismos, nas regras de vida, são sempre perigosos e para dar conselhos é necessário explicar o porquê e o como e os contextos em que são válidas, sob pena de as regras serem apenas auto-indulgências.

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