Plínio, o Velho, conta em História Natural, XXXV, § 151 et 152, que o ceramista Dibutades de Sicione foi o primeiro a modelar relevos humanos em argila. Esta invenção, porém, deveu-se à sua filha.
O facto ocorreu em Corinto. A filha do ceramista amava um jovem que estava de partida para uma longa viagem. A fim de guardar de algum modo a figura do mancebo, com o auxílio de uma lâmpada, projetou a sombra do amado numa parede e contornou-a com um carvão. O pai preencheu o contorno com argila, fazendo um relevo que figurava o rapazote. Este célebre contorno foi considerado a origem da pintura, do relevo e de todas as artes que dependem da linha e também da sombra (skiá).
A sombra suscitou a execução do desenho, mas é uma sombra efémera, compreendida como substituição, como duplo de um objeto real ou de um ser vivo. Na história sobre a origem da pintura, a sombra é vista como uma imagem semelhante (Sekimura, 2009, 62).
A história do nascimento da pintura é motivada por circunstâncias amorosas. A narrativa diz que aos olhos do desejo, a representação vale menos como semelhança, do que como traço. A amante tenta evocar o amado, que em breve estará ausente, através de um testemunho real do corpo presente. “A lição da fabula é bem essa: a mimese vem após a contiguidade, o desejo passa em primeiro lugar pela metonímia e a pintura nasce índice porque se baseia no desejo” (Dubois, 2003, 122).
No comments:
Post a Comment