Cenário de pesadelo: alarme enquanto os anunciantes procuram ligar-se aos nossos sonhos
Adam Gabbatt
Depois de Coors ter procurado conduzir mentes inconscientes a pensamentos de cerveja, os cientistas apelam a limitações na 'incubação de sonhos direccionados'.
Quando o gigante cervejeiro Coors lançou uma nova campanha publicitária no início deste ano, o formato surgiu como uma surpresa para muitos. A empresa planeava infiltrar-se nos sonhos das pessoas para as levar a comprar a cerveja Coors.
Coors encorajou as pessoas a verem um pequeno vídeo online antes de se deitarem e depois deixar uma "paisagem sonora" a tocar durante a noite - oito horas Sendo bem sucedida, esta "incubação de sonhos direccionada" desencadearia "sonhos refrescantes" de Coors, de acordo com a empresa.
Não é claro quantas pessoas participaram na manipulação dos sonhos - o resultado da pesquisa no Google para "Sonhos de Coors" é actualmente a canção Dreams, interpretada pela banda irlandesa de 'pop-rock' The Corrs - mas os especialistas advertem que a campanha Coors não é apenas um artifício e pode ter aberto uma porta para um futuro preocupante.
"Estão a tentar impingir uma droga viciante a pessoas que são ingénuas em relação ao que lhes está a ser feito. É difícil fazer pior que isso -disse Bob Stickgold, um psiquiatra e neurocientista cognitivo professor de Harvard, sobre os esforços da companhia Coors- pois tem o poder de ser replicado por outras empresas."
"Qualquer coisa para a qual se pudesse imaginar uma campanha publicitária poderia, sem dúvida, ser melhorada através do condicionamento do sono", disse Stickgold. Stickgold foi um dos co-autores de uma recente carta aberta, em Junho passado, que fez soar o alarme sobre as empresas que utilizavam a incubação de sonhos. A carta foi assinada por 35 investigadores do sono e dos sonhos de todo o mundo.
"TDI-advertising não é um truque divertido, mas um declive ardiloso com consequências reais", advertia a carta. "O potencial de utilização indevida destas tecnologias é ameaçador e óbvio".
O conceito de incubação de sonhos - "técnicas utilizadas durante a vigília para ajudar uma pessoa a sonhar com um tema específico" - existem há milhares de anos, de acordo com os investigadores.
No passado mais recente, Salvador Dalí foi dado à prática de segurar uma colher enquanto dormia a sesta, numa tentativa de aumentar a sua criatividade. Quando Dalí começasse a cair num sono mais profundo e a sonhar, a colher iria cair da sua mão para um prato pré-posicionado, acordando-o num estado em que se pudesse lembrar das imagens ou cenas que tinha - brevemente - sonhado.
Ao longo da última década, a investigação demonstrou que os sonhos das pessoas podem ser direccionados, e que os seres humanos podem ser altamente susceptíveis a pensamentos ou ideias artificialmente introduzidos enquanto dormem. Um estudo de 2014 revelou que os fumadores expostos ao cheiro de cigarros e ovos podres enquanto dormiam fumavam 30% menos cigarros durante a semana seguinte; Stickgold afirma haver trabalhos que mostram que é possível reduzir os preconceito racial através da incubação de sonhos direccionados.
Embora grande parte da investigação até à data tenha sido orientada para resultados positivos, os cientistas temem que a ameaça da publicidade de sonhos seja real, e num mundo cada vez mais interligado não é provável que se limite à participação voluntária.
Quando o gigante cervejeiro Coors lançou uma nova campanha publicitária no início deste ano, o formato surgiu como uma surpresa para muitos. A empresa planeava infiltrar-se nos sonhos das pessoas para as levar a comprar a cerveja Coors.
Coors encorajou as pessoas a verem um pequeno vídeo online antes de se deitarem e depois deixar uma "paisagem sonora" a tocar durante a noite - oito horas Sendo bem sucedida, esta "incubação de sonhos direccionada" desencadearia "sonhos refrescantes" de Coors, de acordo com a empresa.
Não é claro quantas pessoas participaram na manipulação dos sonhos - o resultado da pesquisa no Google para "Sonhos de Coors" é actualmente a canção Dreams, interpretada pela banda irlandesa de 'pop-rock' The Corrs - mas os especialistas advertem que a campanha Coors não é apenas um artifício e pode ter aberto uma porta para um futuro preocupante.
"Qualquer coisa para a qual se pudesse imaginar uma campanha publicitária poderia, sem dúvida, ser melhorada através do condicionamento do sono", disse Stickgold. Stickgold foi um dos co-autores de uma recente carta aberta, em Junho passado, que fez soar o alarme sobre as empresas que utilizavam a incubação de sonhos. A carta foi assinada por 35 investigadores do sono e dos sonhos de todo o mundo.
"TDI-advertising não é um truque divertido, mas um declive ardiloso com consequências reais", advertia a carta. "O potencial de utilização indevida destas tecnologias é ameaçador e óbvio".
O conceito de incubação de sonhos - "técnicas utilizadas durante a vigília para ajudar uma pessoa a sonhar com um tema específico" - existem há milhares de anos, de acordo com os investigadores.
No passado mais recente, Salvador Dalí foi dado à prática de segurar uma colher enquanto dormia a sesta, numa tentativa de aumentar a sua criatividade. Quando Dalí começasse a cair num sono mais profundo e a sonhar, a colher iria cair da sua mão para um prato pré-posicionado, acordando-o num estado em que se pudesse lembrar das imagens ou cenas que tinha - brevemente - sonhado.
Ao longo da última década, a investigação demonstrou que os sonhos das pessoas podem ser direccionados, e que os seres humanos podem ser altamente susceptíveis a pensamentos ou ideias artificialmente introduzidos enquanto dormem. Um estudo de 2014 revelou que os fumadores expostos ao cheiro de cigarros e ovos podres enquanto dormiam fumavam 30% menos cigarros durante a semana seguinte; Stickgold afirma haver trabalhos que mostram que é possível reduzir os preconceito racial através da incubação de sonhos direccionados.
Embora grande parte da investigação até à data tenha sido orientada para resultados positivos, os cientistas temem que a ameaça da publicidade de sonhos seja real, e num mundo cada vez mais interligado não é provável que se limite à participação voluntária.
"Algo como 30 milhões de pessoas têm estes dispositivos de escuta, do tipo Alexa, no seu quarto. E esses aparelhos podem tocar o que quiserem quando quiserem enquanto dormem. Os anunciantes podem comprar tempo de publicidade para ser accionado às 2.30 da manhã, por exemplo", disse Stickgold. "Uma situação do género, '1984' em que os anunciantes compram tempo de publicidade nestes aparelhos e ninguém sabe que está a ouvi-los".
Segundo Stickgold isso poderia ser feito tocando um determinado som sempre que um produto - uma cerveja Coors, ou um álbum Corrs, por exemplo - fosse visto durante um anúncio de televisão ou YouTube. Depois esse som seria accionado durante o sono da pessoa." Reproduzir esse som enquanto alguém está a dormir, potencialmente através de um dispositivo doméstico, desencadearia, em teoria, sonhos sobre como seria bom beber uma cerveja, ou ouvir um conjunto musical irlandês de guitarra e violino.
Num esforço para evitar tais cenários, a carta de Junho apelava a uma regulamentação mais rigorosa sobre publicidade, para evitar que os produtos fossem empurrados para os sonhos. Stickgold disse que a Comissão Federal do Comércio já restringe alguma publicidade subliminar, como o flashing de palavras ou imagens durante filmes ou programas de televisão, e seria capaz de intervir.
"Nos EUA poderíamos tentar obter uma decisão da FTC, segundo a qual qualquer tentativa de manipular as pessoas enquanto dormem, seja especificamente através da indução de sonhos, ou através de outros processos de aprendizagem dependentes do sono, seriam classificada de concorrência desleal", disse Stickgold.
A comissão ainda não comentou se vai entrar na questão, mesmo quando os investigadores dizem que algumas empresas estão a examinar activamente o potencial de se introduzirem nos sonhos.
O nosso sono pode estar seguro de momento, mas os cientistas acreditam que se trata de uma ameaça real.
"Acreditamos que são necessárias, urgentemente, acções proactivas e novas políticas de protecção - escreveram Stickgold e os seus colegas especialistas em sono- para evitar que os anunciantes manipulem um dos últimos refúgios das nossas mentes conscientes e inconscientes já sitiadas: os nossos sonhos".
Num esforço para evitar tais cenários, a carta de Junho apelava a uma regulamentação mais rigorosa sobre publicidade, para evitar que os produtos fossem empurrados para os sonhos. Stickgold disse que a Comissão Federal do Comércio já restringe alguma publicidade subliminar, como o flashing de palavras ou imagens durante filmes ou programas de televisão, e seria capaz de intervir.
"Nos EUA poderíamos tentar obter uma decisão da FTC, segundo a qual qualquer tentativa de manipular as pessoas enquanto dormem, seja especificamente através da indução de sonhos, ou através de outros processos de aprendizagem dependentes do sono, seriam classificada de concorrência desleal", disse Stickgold.
A comissão ainda não comentou se vai entrar na questão, mesmo quando os investigadores dizem que algumas empresas estão a examinar activamente o potencial de se introduzirem nos sonhos.
O nosso sono pode estar seguro de momento, mas os cientistas acreditam que se trata de uma ameaça real.
"Acreditamos que são necessárias, urgentemente, acções proactivas e novas políticas de protecção - escreveram Stickgold e os seus colegas especialistas em sono- para evitar que os anunciantes manipulem um dos últimos refúgios das nossas mentes conscientes e inconscientes já sitiadas: os nossos sonhos".
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