O pensador da complexidade, do humano na sua inserção no mundo. Este é um dos texto dele que melhor fala de nós:
A ideia segundo a qual se pode definir homo dado-lhe apenas a qualidade de sapiens, isto é, de um ser racional, razoável e sábio, é uma ideia pouco razoável e pouco sábia. Homo é também demens: manifesta uma afectividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; traz em si uma fonte permanente de delírio; crê na virtude de sacrifícios dolorosos; dá corpo, existência e poder a mitos e deuses da sua imaginação.
A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira. Mas, sem as desordens da afectividade e as irrupções do imaginário, sem a loucura do impossível, não existiria entusiasmo, criação, invenção, amor, poesia.
Todavia, temos necessidade de controlar o homo demens para exercer um pensamento racional, argumentado, crítico. Temos de inibir em nós, não o demens, mas o que ele tem de mesquinho, mortífero e destruidor. Temos necessidade de sabedoria, que nos pede prudência, temperança, cortesia, desprendimento.
Em suma, precisamos de ligar o homo sapiens ao homo demens: o homem construtor ao homem ansioso, o homem crítico ao homem imaginário e mitológico, o homem consciente e responsável ao homem neurótico, erótico, o homem racional ao homem louco, numa cara com muitas faces. (Edgar Morin)
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