June 04, 2021

Às vezes gostava de não ter este feitio e ser uma pessoa normal

 


Hoje fui ao Palácio Nacional da Ajuda. Queria ver a exposição da rainha D. Maria com a coroa portuguesa -que nunca tinha visto- e já agora aproveitar para ver o palácio renovado pois a última vez que lá fui, há uma dúzia de anos ou assim, aquilo estava tudo muito decadente.

Havia uma avaria qualquer de modo que não conseguiam emitir bilhetes e não os cobravam - entrámos de graça. Achei mal, quer dizer, se não não conseguem emitir bilhetes, podem pôr ali uma caixa e dizer às pessoas que agradecem que doem o dinheiro do bilhete ao museu. São 5 euros, de modo que me parece que toda a gente ou a maioria o dava. Não sei, parece-me falta de expediente.

Entra-se pelo palácio que está muito renovado, são já poucas as coisas a precisar de restauro. Os tectos estão lindos, os quadros, as tapeçarias. 

O palácio, não tendo a riqueza dos palácios reais de França, da Áustria, da Rússia ou da Turquia que são dum fausto que entontece, é muito bonito e com muito bom gosto. 

Uma das funcionárias do palácio, no andar de baixo, era francesa. Vive cá há muitos anos. Falava um português impecável mas com sotaque. Então, esteve a falar-nos das porcelanas de Sévres, das tapeçarias francesas, das madeiras, de um quadro que representa o Champs De Mars com o Napoleão II e uma parada - ainda sem a Torre Eiffel, claro. Pusemos-nos a falar de como a vista dessa zona de Paris é radicalmente diferente da actualidade e de como a vista de Lisboa do Terreiro do Paço para o castelo de 1800, está igual - outro dia fui dar com uma imagem. Falou-nos do bisavavô que trabalhou ali. Fiquei à conversa com ela. Contou-me que andou no Liceu Lamartine e que o marido andou no Condorcet, ali perto do Campo de Marte. Sabia a história das peças todas portuguesas das salas do palácio, mais as das porcelanas alemãs.




Uma pintura com Napoleão

Este quadro da escola italiana está num corredor. É tão bonito, tão bonito que é difícil pôr em palavras. A fotografia do telemóvel não consegue apanhar a beleza da pintura que representa um episódio de uma batalha de San Marino.


o tecto da sala do trono está lindíssimo



Esta parte da visita foi muito boa. Depois saímos por uma ala que dá acesso à exposição da rainha D. Maria. Fila para entrar. Esperámos 15 minutos (um casal desistiu) o que achei estranho porque não havia praticamente ninguém. Quando deixaram entrar é que percebi a razão da espera. Aquilo está muito mal organizado. Salinhas pequenas com tudo atafulhado de maneira que não se caminha num sentido só, tem que dar-se a volta às salas e depois voltar a atravessar o que faz com que as pessoas se cruzem umas com as outras e percam muito tempo. Não há fluxo. Uma sala de 10 ou 12 m2 têm dois quadros gigantes, em paredes contíguas, com a iluminação posta de tal maneira que se não nos afastamos bastante dos quadros ou pomos na diagonal, não vemos nada. Só que para fazer isso esbarramos com outros que estão a ver o outro quadro, de modo que só entram dois. Em cada sala ficamos à espera para entrar na seguinte. Não têm pessoas para fazer fluir o trânsito de modo que há quem veja as salas e depois fique ali parado a ver as mensagens no telemóvel... Não havia uma única sala organizada como deve ser , quer dizer, a precaver-se para o caso de haver muitas pessoas. Como tinha que se esperar para entrar em cada sala (no pico do verão turístico com centenas de turistas ali dentro aquilo deve ser um caos desesperante) punha-me a observar todos os erros de organização e de luz e de percurso e a pensar a melhor maneira de organizar a exposição para evitar aquelas esperas e ajutamentos. Perdi completamente o espírito de apreciação das obras com que vinha e já estava um bocadinho irritada com tanta falta de bom senso. 


Na sala da coroa onde também está o ceptro, tem aqueles dois funcionários que se vêem e um guarda que está na outra entrada, às vezes. Mais ninguém. Tirei a fotografia a 10 cm do vidro onde a coroa está sem que ninguém me incomodasse. A coroa está perto da escada de saída. Pus-me a observar a facilidade com que um profissional do roubo levava aquilo num instante e a calcular todas as falhas de segurança. Há outras jóias dentro de uma pequena caixa-forte mas também com um guarda apenas, à porta, numa das pontas, que não tem visibilidade para o interior. Já nem consegui apreciar as coisas... ... quando pensamos na facilidade com que roubaram as jóias da coroa na exposição dos Países Baixos onde havia segurança e vemos como elas estão aqui, só por milagre não vão desaparecer. Estas jóias todas estavam na caixa-forte da Casa da Moeda que tem uma segurança como deve ser, 24 horas por dia. Agora estão ali assim, à solta...
Enfim, às vezes gostava de ter outro feitio porque saí dali tão stressada com a falta de racionalidade daquilo tudo que só me passou porque almocei bem e em boa companhia.


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