May 24, 2021

Um artigo de jornal que presta um mau serviço à saúde

 


Este artigo que ocupa sete páginas do jornal faz a apologia da normalidade de se ser gordo como se fosse um estilo de vida igual a outro qualquer.
Digo já à cabeça que sou contra o bullying e toda a espécie de comentários depreciativos que se fazem às pessoas que estão gordas. Dito isto, não me parece que uma pessoa com 15, 20 ou 30 quilos a mais do que devia se possa considerar normal em termos de saúde. Ora, este artigo está cheio de erros de raciocínio com intuito de concluir que cada um tem o corpo que quer e ninguém tem nada que ver com isso. 

Sim, cada um tem o corpo que quer mas não venha convencer que isso é normal. A norma é estarmos dentro de um intervalo de peso que tem a ver com vários factores que servem de critério. Estar com 15, 20 ou 30 quilos a menos, é estar doente -os anoréxicos também têm o corpo que querem mas todos os consideramos doentes, porque o são. Muitos morrem dessas doença. No outro extremo, estar com 15, 20 ou 30 quilos a mais, também é uma doença e se estes casos do artigo ainda não dão por isso é porque são ainda jovens e enquanto somos jovens o corpo processa tudo. 

Eu fumei estupidamente, repito, estupidamente, durante 30 anos e nesse tempo raramente fui a um médico e quando ia era por outras coisas (o dentista, etc). Não tinha problemas de saúde, estava sempre óptima. Agora (16 anos depois de deixar de fumar) tenho um cancro no pulmão e montes de porcarias subsidiárias. Pessoas obesas -ter 15, 20 ou 30 quilos a mais do peso, é estar obeso- têm grandes probabilidades de desenvolver uma data de doenças e de morrer prematuramente.

Basta entrar na página de um hospital para vermos uma curta lista de doenças resultantes do excesso de peso e obesidade: doenças cardíacas, diabetes, asma, cancro, depressão, apneia do sono. São doenças potencialmente mortais ou incapacitantes de modo que as pessoas com excesso de peso significativo não são saudáveis, embora durante muito tempo o possam parecer, porque o corpo ainda é jovem e processa tudo. Mas está a fazer estragos que não são visíveis a não ser muitos anos depois. Para além disso, podem passar aos filhos e aos netos, marcadores epigenéticos de obesidade com todos os problemas subsidiários que essa doença tem. 

Não digo que as pessoas tenham que ter vergonha de estarem gordos, da mesma maneira que eu não tenho vergonha de ter uma doença grave (muitos que conheço têm vergonha de ter um cancro e escondem). Agora, não me orgulho disso nem acho normal e sei que a grande causa da doença foi o meu comportamento de fumadora, de modo que acho um mau serviço um jornal fazer uma espécie de apologia dos comportamentos que causam excesso de peso e obesidade, como se não fossem, tal qual como o fumar, grande potenciadores de doenças graves e tudo fosse apenas uma questão de preconceito contra a diversidade e o direito a ter excesso de peso. 

O artigo está cheio de equívovocos.




1º equívoco - os gordos não têm vida sedentária, fazem exercício e não ser gordo é ser classista, elitista. Ser gordo é um mero estilo de vida como outro qualquer, um direito legal. O que está aqui em causa não são direitos jurídicos -é certo que a pessoa tem o direito a querer estar gordo, como tem o direito de querer ser doente, desde que não prejudique outros- mas opções de vida imprudentes no sentido do benefício da saúde.
Por esta ordem de ideias, ser anoréxico também é um estilo de vida a ser louvado como um direito? Ou aí, como é muito visível o estrago na saúde, já é doença?



2º equívoco - a indústria da roupa não reconhece a diversidade, seja de corpo, de etnia, de cor de pele, deficiência, orientação sexual ou género. Estar gordo não cabe na categoria dos outros exemplos que não têm que ver com estilos de vida nem com saúde, tampouco. O que tem a orientação sexual a ver com a saúde? Ser de uma determinada etnia ou ter uma deficiência ou ter uma certa cor de pele não são estilos de vida. A industria da moda fomenta uma visão de normalidade de deficit de peso e nisso está mal como estaria mal se fomentasse a normalidade do excesso de peso. Devia vender para todos, naturalmente, porque todos se vestem, mas fomentar o equilíbrio - pessoas com diversidade de formas corporais mas com peso equilibrado - nem em excesso nem em deficit. Isso seria o ideal. 



3º equívoco - confundir a aceitação da diversidade de corpos (os corpos da moda e da publicidade são todos iguais em forma e medidas, é verdade) com a normalidade do excesso de peso. As pessoas têm corpos diferentes: pernas compridas, pernas curtas; caras redondas, ovais, quadradas; ancas largas ou apertadas; peitos de todos os tamanhos e feitos; os homens também, tronco e ombros de todos os tamanhos e feitos; pernas fininhas, pernas grossas, etc. Isso é que é a diversidade de corpos, não o ter excesso de peso e estar obeso. A obesidade é uma doença e é uma doença potenciadora de outras doenças físicas e mentais.


5 comments:

  1. Ó pá, eu, depois da gravidez, ou seja, há 30 anos fiquei com 20 kg a mais. Experimentei dietas, fiz uma cirurgia plástica e voltei a recuperar o os 20 kg.Adoro comer! Vivo com uma pessoa que também adora e é um excelente cozinheiro. Que hei-de fazer? Odeio legumes...já não me interessa seduzir ninguém. Só quero saborear as coisas boas da nossa gastronomia. E tenho direito a isso. Há cerca de 10 anos que peso 80 kg. Que se lixe!

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  2. A questão não é essa. Tens esse peso porque comer e bastante bem faz parte do teu conceito de viver bem que tem prioridade sobre o resto, o que está certo, mas não advogar que ter 20kg a mais do que devias é muito bom e não faz mal nenhum à saúde (tens asma e outros problemas) que é o que estes do artigo fazem. Eu quando tenho peso a mais, o que significa açúcar a mais no organismo, começo a ter inflamações, sobem-me as PCRs, fico logo com medo por o açúcar e o cancro são amigos...

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  3. *queres comer bem e em boas doses
    *não advogas

    (este corrector é horrível)

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  4. Pois, é claro que tens razão! Não é bom para a saúde. Eu, neste confinamento, não engordei um único quilo. Também não perdi, mas toda a minha roupa me serve! Se calhar, devia perder uns 10 kg. Já seria aceitável, admito.
    A mim, o que me chateia mais, é vestir o 52 e só encontrar roupa até ao 44/46....lá tenho eu de vestir o que me serve e não o que eu gosto! Se vivesse na Alemanha, por exemplo, já não tinha esse problema...

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  5. Pois isso é que está mal, as marcas não fazerem tamanhos maiores e terem só tamanhos pequenos. Eu engordei desde março de 2020, mas já perdi quase tudo o que engordei. Tenho feito exercício. Podes comprar certo tipo de roupa a partir do eBay alemão.

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