May 19, 2021

Toda a gente é especialista em educação... daí o estado em que ela está




O Expresso dá uma página inteira a um indivíduo que é psicólogo clínico e forense para espraiar a sua opinião acerca da educação: currículos, métodos de ensino, avaliação, educadores, o que deve ser estruturado, o que presta e não presta... é claro que depois diz baboseiras umas atrás das outras, no meio de frases de montra do género slogan daquelas com que todos concordamos mas que não servem para nada a não ser para preâmbulo de alguma palestra: 

[não se pode]Ignorar o que diz a psicologia do desenvolvimento e a neuropsicologia, não compatibilizar o processo ensino-aprendizagem com o processo de socialização do estudante, assim como não levar em consideração a natureza biopsicossocial, o contexto sociocultural e as experiências adversas ocorridas na infância, maioritariamente provocadas pelos progenitores.

É por isso que a educação está no estado que está. Outro dia era no Jornal Económico, se não estou em erro. Um estudante de mestrado do curso de gestão da Nova escrevia um artigo sobre reformas na educação... um puto do curso de gestão que ainda agora chegou ao mundo mas também já sabe o que deve fazer-se na educação.

Temos um ministro que percebe menos de educação e de escolas do que eu de minhocas, um secretário de estado profundamente ignorante acerca de pedagogia e de educação, vaidoso e arrogante que tem sido um bulldozer - pior que ele só mesmo a fulana Rodrigues.

Isto está na moda. Basta ver a colecção de ministros, secretários de Estado, dirigentes e assessores que não percebem um boi dos assuntos que têm que gerir, só fazem asneiras, mas são postos nos cargos para estragar devidamente o que custa muitos a outros fazer. O Cabrita, a Temido, a filha do pai, o tontinho... 


Gastar na educação? Ou reestruturar a educação?

Mauro Paulino

O apoio de 500 euros que o Governo anunciou para os adultos com menos do que o ensino secundário que queiram completar os estudos não é o tipo de gasto que irá melhorar o sistema educativo, diz na segunda crónica do mês para o Expresso o psicólogo clínico e forense Mauro Paulino, para o qual se impõe uma mudança estrutural na educação, desde o ensino primário.

Para início de conversa, é importante que se perceba que o absentismo e o insucesso escolar são meio caminho andado para a exclusão social. Há vários anos que a investigação apontou que são as crianças e os jovens de nível económico mais baixo as principais vítimas do insucesso ou do fracasso escolar, colocando a ênfase nas desigualdades sociais. A estas somam-se as implicações disfuncionais da família, a inoperância escolar, a ineficácia dos currículos e dos métodos de ensino e avaliação. É por isto que o insucesso ou a exclusão escolar não são um mero problema individual, unicamente centrado na capacidade de determinado aluno, mas, no seu âmago, um processo social. Desta forma, é fundamental considerar em termos sistémicos o aluno na sua situação escolar, não fossem o ensino e a aprendizagem processos situados, contextualizados e relacionais.


Ignorar o que diz a psicologia do desenvolvimento e a neuropsicologia, não compatibilizar o processo ensino-aprendizagem com o processo de socialização do estudante, assim como não levar em consideração a natureza biopsicossocial, o contexto sociocultural e as experiências adversas ocorridas na infância, maioritariamente provocadas pelos progenitores, corremos o risco de hipotecar, ainda que em parte, o futuro de muitas crianças e jovens, de comprometer a sua autonomia, a sua capacidade de adaptação, a sua motivação para a aprendizagem. No fundo, um prejuízo social que podia ter sido evitado.

A propósito das experiências adversas na infância, referir que a investigação tem demonstrado que tais experiências acarretam uma maior variedade de problemas de saúde na idade adulta, uma vez que afetam negativamente o desenvolvimento cerebral, imunológico, endócrino e, inclusive, até a forma como o ADN é replicado.

Variáveis relacionadas com a valorização das aprendizagens escolares, efeitos motivacionais, gestão de expectativas e indicadores de reforço surgem, inevitavelmente, antes do contexto escolar na vida das crianças, como sucede na família e comunidade. O risco de desenvolvimento de problemas de inadaptação pessoal e social surge, não raras vezes, associado à dificuldade de se expressar ideias e defender pontos de vista, de defender opiniões ou até mesmo direitos sem recurso à violência, de gerir conflitos, de desfrutar da cultura, de tomar e manter decisões atendendo às consequências das várias escolhas. As carências psicoemocionais e psicossociais acumuladas ao longo do desenvolvimento constituem uma espécie de bloqueio ou recusa para se adaptarem a sistemas socioculturais, quer familiares, quer escolares, quer laborais.

Em diversas investigações sobre o perfil de socialização de estudantes em risco ressaltam determinadas características, nomeadamente comportamentos agressivos e disruptivos, ausência de culpa e de remorso, relações superficiais, falta de compreensão das emoções, insensibilidade, desconfiança, oposição sistemática e desmotivação, entre outras.

Com futuros benefícios para o desenvolvimento económico de todo um país, merece referência o louvável trabalho que a Fundação José Neves tem vindo a realizar, tendo como missão contribuir para a transformação de Portugal num país de conhecimento, através da educação e do desenvolvimento pessoal. Acreditando que o conhecimento é o instrumento para um país melhor, partilham a sua ambição de ajudar a elevar significativamente o estatuto e a posição de Portugal nos rankings internacionais de educação e de desenvolvimento humano nos próximos 20 anos.

No próximo dia 2 de junho, será dado, então, mais um passo nessa direção com o primeiro evento anual da Fundação José Neves onde irá ser apresentado um programa de promoção do bem-estar, saúde mental e desenvolvimento individual, com vista a promover a melhoria do bem-estar emocional e psicológico e do equilíbrio entre as dimensões intelectual e emocional. Aliás, um sinal claro para as escolas de que em vez de investirem só na promoção das qualificações disciplinares e curriculares, devem assumir também um papel proativo na promoção das aptidões emocionais e sociais dos alunos, ensinar a responsabilidade social, a resolução de conflitos, o empreendedorismo, a empatia, a cidadania.

O reflexo da incipiência de estratégias de análise psicossocial da comunidade escolar, desde cedo, põe em causa uma verdadeira mudança social, a qualidade de vida emocional e cognitiva de muitas crianças e jovens. Coloca em perigo a futura vocação e integração social num mundo em constante e turbulenta mudança. Como escreveu Vítor da Fonseca, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, a exclusão escolar é uma antecâmara do fracasso na vida, abre a porta a consequências afetivas, ao insucesso experiencial.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses, através do projeto Escola SaudávelMente, coloca ao dispor de alunos, diretores, psicólogos escolares, pais, professores, assistentes operacionais um conjunto de importantes informações e recursos que visam quatro relevantes dimensões: estrutura, organização e clima da escola; saúde psicológica e sucesso educativo; literacia em educação para a saúde psicológica; saúde psicológica dos agentes educativos; envolvimento da família e da comunidade.

As medidas políticas têm de estar alicerçadas em medidas científico-pedagógicas, onde a psicologia assume especial destaque, para se desenharem programas com impacto efetivo e intergeracional, ao invés de deitarmos dinheiro fora, ou procurarmos atalhos para iludir as estatísticas sobre a escolaridade de um povo, que poderá afinal de contas estar alheado da vida. A não ser que para determinados sectores interesse a existência de uma sociedade pouco crítica e nutrida para se questionar e desenvolver. O insucesso escolar só pode ser combatido eficazmente quando as decisões forem baseadas em evidência científica. Memorize-se que o desenvolvimento de qualificações de vida, ao longo do percurso escolar, é crucial na prevenção do desajustamento social.

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