As aguarelas de Dürer são muitas vezes estudos de paisagens para serem integradas em gravuras e não têm, portanto, um fim em si mesmas. Não sei é o caso desta, o livro não diz porque também não sabe. Sabe-se daquelas que apareceram depois em gravuras e mesmo essas podem ter ido feitas como um fim e usadas depois por conveniência.
Seja como for, esta aguarela, cujas cores não são tão vincadas como a fotografia as pôs, são mais esbatidas, a mim impressiona-se pois o olhar dele pôs todas as coisas -a terra, os troncos das árvores, o lago, as montanhas ao fundo, as nuvens, como se fossem uma, apenas com intensidade e expressões diferentes. O tom castanho amarelado da terra vai escurecendo e esverdeando e para um lado prolonga-se em terra, troncos de árvores, céu; para outro em água e folhas e pedras e nuvens. Tudo é a mesma matéria, só que exposta ou expressa de um modo próprio. Tudo está em tudo. Não só no tempo presente mas no passado e no futuro. Somos reciclados. Não inventámos a reciclagem. A Natureza faz um enorme trabalho de reciclagem com a matéria. O resto? O espírito? O espírito de Dürer, onde está? Está escondido nas obras se quisermos e soubermos olhá-las.
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