[ver post anterior] Irrita um bocado que o dêem como exemplo de uma pessoa muito inteligente só porque fez muito dinheiro. Confunde-se inteligência com a habilidade de fazer dinheiro. Compreende-se as vantagens de uma tal habilidade num mundo onde esse é o principal definidor de realização e sucesso individuais e percebemos que essa habilidade tem por detrás uma inteligência para o negócio. No entanto, uma inteligência para o negócio, é só isso. Serve a pessoa e mais ninguém: não é uma inteligência da vida, não traz nenhuma visão de caminho para o ser humano, para a vida em sociedade, soluções para o planeta... A habilidade para fazer dinheiro não teria mal nenhum se não fosse o facto de, tanto ele como os outros, identificarem essa habilidade com uma sabedoria de vida e elevarem-no a guia espiritual da humanidade.
O que ele aqui diz é que a educação universitária, enquanto saber, não vale o dinheiro que custa. Independentemente disso poder ser verdade, nos dias que correm, as palavras dele centram-se no dinheiro e não na educação. É típico de quem valoriza os títulos, não os tendo, desvalorizar os dos outros, para não se diminuir. Estou em crer que se ele tiver filhos, não aconselhará os filhos a não estudar e a irem para a internet aprender 'coisas' que é o mesmo que aprender nada. Não quer dizer que uma em cada x milhões de pessoas não nasça com um talento qualquer especial que dispense a quantidade de esforço que os outros necessitam, mas essa pessoa não servirá nunca de modelo para os outros.
Isto que ele diz e põem na capa da Times como se fosse um grande princípio de vida, é infantil. É o que dizem os meus alunos do 10º ano quando não querem estudar, 'ah, veja lá o Cristiano Ronaldo, não estudou grande coisa e tem uma boa vida, cheio de dinheiro'. Pois, mas não é com falta de trabalho. Em primeiro lugar, para fazer o que ele fez tem que ter-se o talento natural que ele tem, mais o físico que o acompanha e depois, a capacidade de trabalho gigantesca que ele dedica a desenvolver esse talento. Elon Musk parece os meus alunos que desvalorizam aquilo que não querem ou não são capazes de fazer, apoiando-se num caso que não pode servir de regra.
Calculo que este Musk goste de ser tratado por um médico quando está doente; goste que médicos e biólogos, químicos e outros cientistas que saibam desenvolver uma vacina; goste de passar os rios por pontes e não a nado; goste que os físicos e os astrofísicos e os engenheiros saibam construir os satélites que põem no ar e os engenhos que mandam para outros planetas; goste dos matemáticos que tornam isso possível; goste da arte que tem em casa; goste de ter bons livros para ler, etc. Não me parece que todas essas realizações e muitas outras possam ser aprendidas indo à internet ver umas 'coisas'.
Em suma, irrita-me um bocado que dêem uma atenção desmesurada a um indivíduo, só porque tem muito dinheiro como se isso fosse um um guia para se ser sábio ou inteligente em outras áreas que não seja a de fazer negócio. Irrita-me sobretudo porque sei que quando põem as pessoas neste píncaros, os miúdos comem isto tudo como verdades eternas.
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