A confissão é uma declaração de verdade, embora tenha uma conotação religiosa de fé relacionada com o sacramento de penitência católico. Tive uma educação católica. Fiz a primeira comunhão aos cinco anos de idade e, portanto, foi nessa altura que me mandaram confessar para poder comungar, esses dois rituais importantes que fazia obrigada e em suplício.
Nessa altura não percebia a grande virtude da confissão na vida das pessoas: uma pessoa faz o mal, vai ao padre uma vez por semana, ele limpa a pessoa de culpas, põe o cartão de crédito dos pecados outra vez com o crédito máximo e aí vai a pessoa à sua vida limpinha e pronta para mais pecados. A primeira vez que me confessei foi uma experiência sentida como uma violação de privacidade. Nessa semana tinha-me pegado com uma das minhas irmãs e no meio da confusão, dei-lhe com uma corneta na cabeça -na testa- o que lhe fez um pequeno lenho com sangue. Na confissão, o padre disse-me que tinha que dizer um pecado. Era a cena com a minha irmã, mas eu não queria dizer, porque sentia vergonha, mais a mais porque o padre ia jantar lá a casa todas as semanas e sentava-se mesmo ao meu lado. O jantar dessa semana foi um suplício e decidi nunca mais dizer nada ao padre nas confissões. Então, ia lá obrigada, o padre perguntava se tinha pecados para confessar e eu ficava muda e ele começava a fazer perguntas, 'disseste mentiras?', 'respondeste mal aos pais', 'brigaste com os irmãos?' Eu dizia a tudo que sim, embora me revoltasse dizer que mentia porque era mentira e rarissimamente o fazia. Mas dizia porque sabia que se dissesse que não ele ia achar que estava a mentir e o que queria era despachar-me daquilo e ver-me livre do homem. Se me tivesse perguntado se tinha morto alguém também dizia que sim. Depois mandava-me rezar orações que eu não sabia porque detestava aquilo tudo. E todas as semanas me perguntava, 'então ainda não sabes o acto de contrição? -Não. 'Nem a versão curta?' -Não. Então ele rezava, linha por linha e eu repetia. Tenho a certeza que ele achava que eu era burra e não conseguia decorar aquilo.
Comungar era outro suplício. Diziam-nos que a hóstia era o corpo de Cristo e que não se podia tocar, nem trincar que era uma grande ofensa, um pecado. Uma pessoa aos cinco anos acredita em tudo o que os adultos dizem. A hóstia era muito fina, pegava-se ao céu da boca e não conseguia desfazer aquilo sem a certa altura trincar. De modo que saia sempre da igreja a pensar que estava a um passinho do inferno: na confissão não dizia nada ao padre e até mentia e depois trincava o Cristo e ficava logo cheia de pecados só de ir à missa.
Enfim, aquilo das confissões durou até aos 9 anos quando fiz a profissão de fé e o crisma. A partir daí já não nos obrigavam, nem a confessar, nem a comungar. Nunca mais fiz, nem uma coisa, nem outra, a não ser uma ou duas vezes no Natal, porque ia tudo em fila e metiam-me na fila, mas nessa altura já não disfarçava o repúdio.
Pois hoje venho aqui fazer a contabilidade dos pecados. Dos 7 pecados mortais, que tiveram várias versões desde que foram criados no século IV AD, esta é a mais aceite:
Orgulho - infelizmente este pratico amiúde...Inveja - este não conheço
Ira - este também me acontece praticar, não muitas vezes, mas às vezes...
Acídia - este não pratico. Quer dizer, já o fiz uma ou outra vez mas por excepção e não regra
Avareza - este não tenho mesmo nada de nada
Gula - bem, este tenho, mas de modo selectivo. Se falamos de chocolates nem os posso ter à vista...
Luxúria - este não tenho
Dois e 1/100, em sete.
Agora sou eu, LOL:
ReplyDeleteOrgulho: zero. Às vezes até mete raiva, mas não tenho.
Inveja: Depende. Tenho uma amiga que é casada com um diplomata e não faz nenhum a não ser viajar. Se calhar....um poquinho.
Ira: Nunca, embora ache que, em certas ocasiões bem que devia ter!
Acídia: Infelizmente, tenho praticado muito, ultimamente.
Avareza: Só um bocadinho! Se não fosse assim não estava tão confortável, agora. Digamos que fui poupada e previdente mais do que avara.
Gula: Ó pá, não consigo resistir!
Luxúria: Não, definitivamente. Sempre detestei mulheres fatais...
Resultado: acho que sou uma pecadora....
pecadores somos todos :) sem uns pecados a vida não tinha pica :)
ReplyDeleteTambém me lembro das minhas confissões. Eu fiz só a 1a comunhão. A minha família não era católica e fui eu que quis fazer. Andava na Primária e queria ir à catequese. Os meus pais não se opuseram. Só a minha tia refilava quando eu, ao domingo, me levantava cedo para ir à missa das 10, que era a dos miúdos...
ReplyDeleteGostava de ir à igreja porque era mais uma forma fe sair de casa e conviver. Filha única e com uns pais muito castradores, arranjava todos os pretextos para sair de casa....
Foi assim, toda a vida.
Não tinha paciência nenhuma para a catequese - e às 4as as aulas começavam com uma palestra do padre... com a fotografia de Salazar e do cardeal Cerejeira atrás dele e o orações. Preferia fazer ditados e cópias.
ReplyDeleteDe resto, nós somos muitos irmãos, e passávamos o tempo fora de casa, o que penso que a minha mãe agradecia porque só fazíamos disparates. Eu e uma das minhas irmãs éramos meio selvagens.