March 08, 2021

A Dança

 


A Dança é um quadro grande (mais de dois metros de lado) de Paula Rego. Foi começado em Portugal e acabado em Londres, em 1988, para onde ela foi viver. Está na Tate.

Refere-se à vida em Portugal, à vida das mulheres, em particular, mas tem um tom universal. Aliás, começou por ter apenas mulheres mas depois o marido de Paula Rego convenceu-a a incluir homens e ela incluiu dois, tendo-o usado a ele e ao filhos como modelos. 

No entanto, o quadro é sobre mulheres e as várias idades das mulheres ao longo da vida - os homens parecem entrar ali apenas numa ou duas etapas da vida. De resto, estão ausentes, como se uns e outros fossem estranhos, a não ser por breves momentos de contacto. Nesses dois momentos, as mulheres estão quase de costas, o que faz supor períodos em que são, em grande parte, definidas pelos homens.

Vê-se uma mulher nas várias idades da vida, desde a infância até à velhice. Uma das que dança parece grávida. A mulher à esquerda, sozinha e maior que as outras está fora da composição e parece ser a observadora, a que reflecte nas etapas da vida das mulheres, talvez na sua própria.

A cena passa-se numa noite de luar aprazível -nada se move, não há vento- e tem uma atmosfera ambivalente, porque a quietude da paisagem, contrasta muito com o movimento das figuras, que é dado pelas saias, dando talvez a impressão de que o mundo permanece idêntico e que o muda são os humanos que o ocupam, momentaneamente.

Há quem diga que o forte que se vê à direita é o Forte de Caxias, um dos locais de presos políticos de Salazar e que a cena tem algo de opressivo, por causa disso. Essa atmosfera de opressão do outro regime muito comum nos quadros dela, não a vejo aqui. Vejo uma reflexão sobre a evolução da vida, a sua transitoriedade e uma certa alegria feminina.


A Dança de Paula Rego, Tate Gallery - 1988


2 comments:

  1. Eu só gostava de saber qual o motivo pelo qual as mulheres têm sempre traços tão rudes?!

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  2. não são rudes. são um bocadinho angulosos e algo terrenas, mas nós portugueses somos um bocado assim: morenos, robustos, mais para o baixo que para o alto, embora hoje em dia se seja um bocadinho mais alto. Eu gosto delas, têm um ar real. As duas que têm apontamentos de cor alegre são as que estão com homens. Até há pouco tempo (a pintura começou a ser feita nos anos 70 e acabou nos 80) os portugueses vestiam-se sempre de preto, as mulheres mais velhas nunca tiravam o preto. Eu visto-me muito de preto, castanho, azul escuro. Eu gosto delas. Acho-as amorosas num registo muito terreno.

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