Platão, no diálogo Simposium ou Banquete, põe um dos convivas a afirmar que havia duas Afrodites, a celestial e a vulgar. Talvez por ir ao encontro de emoções humanas enraízadas, esta alusão, feita de passagem, nunca foi esquecida. Tornou-se um axioma da filosofia medieval e renascentista. É a justificação para as representações de mulheres nuas.
Desde sempre que o desejo físico obsessivo encontrou alívio em imagens e dar a essas imagens a forma pela qual Vénus deixa de ser vulgar e se torna celestial tornou-se um dos objectivos recorrentes da arte europeia - simetria, medida e o princípio da subordinação foram os meios empregues.
A subordinação é definida como minimização ou atenuação de outros elementos de composição a fim de chamar a atenção para o ponto focal. O ponto focal refere-se a uma área na composição que tem o maior significado, uma área para a qual o artista quer chamar a atenção como o aspecto mais importante.
Mas talvez esta purificação de Vénus não tivesse acontecido se não fosse uma certa noção abstracta presente na cultura do Mediterrâneo que distingue a Afrodite vegetal da cristalina. E estas duas concepções diferentes foram-se distinguindo aos poucos, na arte.
A Vénus de Boticcelli que nasce do mar cristalino do pensamento e da eternidade é muito diferente da Vénus de abundância vegetal de Rubens. Platão fez destas duas deusas, mãe e filha; os filósofos renascentistas, reconheceram-nas como gémeas.
Vénus de Rubens - (pormenor)
Na Grécia Antiga, mesmo já no século V AEC era muito raro uma mulher ser representada nua porque ofendia princípios religiosos e sociais. Os homens andavam nus nos ginásios e nas provas desportivas e mesmo vestidos, as suas túnicas eram muito curtas e pouco escondiam; mas as mulheres andavam sempre cobertas da cabeça aos pés.
Esparta era a única excepção e as suas mulheres, que se apresentavam nuas ou pouco vestidas como os homens, eram um escândalo no resto da Grécia.
A Afrodite nua era um conceito do médio oriente e a primeira figura que aparece nua era muito diferente da Afrodite clássica: tinha linhas direitas e não curvas.
Esta estatueta, que está em Munique, é o cabo de um espelho.
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