"Na nossa busca pela beleza física, o nosso instinto não é imitar mas aperfeiçoar". Aristóteles dizia, art completes what nature cannot bring to finish. The artist gives us knowledge of nature’s unrealized ends. Não há perfeição na natureza, só na ideia.
Os gregos celebravam a nudez como representação da união entre a matéria e o espírito. Vêem-se como semelhantes aos deuses do Olímpo e a nudez celebra essa beleza e harmonia que encontram na natureza e no cosmos. Os homens competiam nus nos jogos e em Esparta, a cidade que mais celebrava a nudez, também as mulheres competiam juntamente com os homens, praticamente nuas ou mesmo nuas.
Nunca mais, desde a antiguidade clássica, o nu artístico foi celebrado com essa naturalidade, essa ligação às forças da natureza, aos deuses e aos cosmos.
Os gregos tinham um canon da beleza, conhecido como o 'canon de Polykleitos', um escultor. Esse canon, perdido nos tempos, continha as medidas matemáticas das proporções que as partes dos corpos na sua relação umas com as outras deviam ter, na construção da estatuária, para que aparecessem belas, pois a beleza sensível tinha, para os gregos, que tanto valor davam à matemática, uma ordem racional, geométrica.
Vitrúvio, um arquitecto do século I AEC, diz-nos que a ordem e harmonia na arquitectura, segundo os gregos, devem seguir as mesmas medidas do homem, do canon de Polykleitos, onde se conjungam o quadrado e o círculo para construir a forma perfeita.
O 'Homem de Vitrúvio', de Cesariano (o primeiro tradutor da obra de Vitrúvio para língua italiana em 1521) bem como o de Leonardo da Vinci, tentaram calcular essas medidas do canon de Polykleitos, mas nunca conseguiram.
Vitrúvio Cesariano - a cabeça, pequena demais para o corpo, as mãos e pés, grandes demais
Leonardo modifica as indicações das proporções de Vitrúvio mas o resultado também não consegue as perfeitas proporções dos gregos
Durante toda a época renascentista e muito depois, os pintores e escultores seguem à risca as proporções indicadas por Vitrúvio ou tentam melhorá-las, mas o efeito nunca é conseguido. Durer, por exemplo, um mestre do ideal das proporções, abandonou essa técnica de construir a forma humana segundo uma receita geométrica, que seguia com todo o rigor, depois da gravura, Nemesis (sabemos que andou a ler Vitrúvio antes de a produzir) - com um resultado distante do ideal clássico.
Francis Bacon declara que não há beleza excelente que não tenha alguma estranheza na proporção. E no entanto, como diz Kenneth Clark, quando olhamos para as estátuas gregas, não deixamos de pensar que o canon de Polykleitos deve ter mesmo existido. Embora não se possa construir uma estátua apenas com medidas matemáticas, como também não construímos música apenas seguindo regras matemáticas, a verdade é que não as podemos ignorar.
Miguel Ângelo chamava Dipendenza à relação entre estas duas formas de ordem: a do corpo e a da arquitectura. O nu é um edifício e, como ele, representa o equilíbrio entre a forma e a funcionalidade. Assim como há uma grande variedade de edifícios, embora sempre com as mesma partes, também os há de corpos humanos.
A mudança das proporções e do ideal do corpo das mulheres, dos gregos para os góticos, é marcante.
A, Eva de Memlinc já nada tem que ver com a Afrodite dos gregos. O corpo ainda é oval mas alongou-se e tem um peito proporcionalmente minúsculo . O corpo aparenta ser muito longo devido à ausência de músculos e articulações que o quebrem. Ela está pintada de acordo com o ideal medieval (suavidade e pureza) que é o que os homens querem ver. A longa curva do estômago, que se tornou comum na representação das mulheres nesta época, é o meio pelo qual o corpo realiza o ritmo ogival da arquitectura gótica tardia.
fonte: The Nude, Kenneth Clark
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