... que não sigo nenhum dos conselhos que leio por aí nas redes sociais acerca da vida e outros temas. Gosto de lê-los, porque alguns encontram eco momentâneo em mim, mas encaro-os como pedaços à procura de contexto, como se alguém tivesse rasgado um pedaço de uma folha de um livro ao calhas, desgarrado do resto que lhe dá sentido.
São às centenas ou milhares: 'ama-te em primeiro lugar'; 'procura a felicidade em tudo'; 'não sigas a vida dos outros, vive a tua'; 'o segredo do sucesso é encontrar o seu destino'; 'sê sempre positivo'; 'vive sempre no presente'... enfim, são tantas, tantas, acerca da vida, da amizade, do amor, do trabalho...
A questão é que estas frases são como partes de corpos. Estava a ler ontem o livro, 'The Nude' e o autor fala na beleza do corpo e em como o retrato do corpo belo não é uma cópia de um corpo material que o artista possa desenhar ou pintar por partes: agora observa um braço belo e desenha-o e depois junta-lhe uma mão bela de outro modelo, depois pega-o a um torso belo de um outro modelo e por aí fora.
Nenhum corpo belo é uma soma de partes belas. Se pudéssemos coleccionar partes belas de corpos e as juntássemos, tínhamos um Frankenstein. O que faz belo um corpo não é uma soma de pedaços belos, mas uma totalidade coerente, onde as partes são, umas belas, outras menos e outras ainda não belas, mas o todo resulta belo, o que tem que ver com uma certa harmonia e coerência das partes sem as quais o corpo não é belo - falta-lhe o espírito que o anima.
É o caso das frases desgarradas que se lêem por aí às centenas. Vistas isoladamente, muitas são belas, mas todas juntas, como passos de uma receita para a vida, seriam um desastre.
E já rearaste que são todas centradas na primeira pessoa do singular? Como se os outros não existissem?
ReplyDeletedizem o que as pessoas querem ouvir e validar porque já o fazem, na maioria, que é pensar só em si
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