... pois só uma pessoa extraordinária é capaz disto. Vou comprar o livro, naturalmente. Como resistir a uma pessoa extraordinária com uma experiência de vida extraordinária?
Gabrielle Filteau-Chiba é uma romancista e activista ambiental do Québec e o seu primeiro romance "Encabanée" (Encabanada) é sobre uma experiência pessoal extraordinária, uma materialização das palavras de Thoreau:
[Fui para os bosques porque queria viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que tinha a ensinar-me em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido. Não desejava viver o que não era vida, a vida sendo tão querida, nem desejava praticar a resignação, a menos que fosse mesmo necessário. Queria viver em profundidade e sugar todo o tutano da vida, viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de pôr em debandada tudo que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso; encurralá-la num beco sem saída, reduzindo-a aos seus elementos mais primários e, se esta se revelasse mesquinha, adentrar-me então na sua total e genuína mesquinhez e proclamá-la ao mundo; e se fosse sublime, sabê-lo por experiência...]
Pois foi exactamente o que ela fez, como conta na entrevista: Excertos da entrevista:
Anouk, a personagem principal do meu romance é um pouco o meu alter ego. No início era o meu diário que romanceei para publicação. Eu vivia uma vida muito organizada e normal, tinha sucesso, uma licenciatura e uma carreira muito promissora, um namorado e um belo apartamento. Disse a mim mesma que podia continuar assim toda a minha vida, trabalhar a tempo inteiro, pagar as minhas contas, ter alguns momentos de liberdade, ou podia vender tudo o que tinha e ter uma vida mais frugal, mas ser livre com o meu tempo. Nessa altura não tinha quaisquer aspirações literárias, tudo o que eu queria era ser mestre da minha vida, estar na natureza, caminhar durante horas, conhecer animais e desenhar flocos de neve. Havia algo de infantil neste desejo de sair do molde, mas na verdade permitiu-me mergulhar na minha própria vida adulta e definir o meu próprio futuro e isso passava pela natureza e pelas artes.
Encabanée, (Encabanada) o título do meu romance, veio até mim porque queria evocar o duplo significado da palavra, 'cabana', que tanto significava uma prisão como um refúgio. Vivi o 'encabanamento' desse modo porque houve momentos de grande dificuldade, mas que, simultaneamente, me deram lições muito valiosas. Se eu não tivesse tido tantas noites sem dormir a observar o lume não teria sido capaz de ver os animais nocturnos, de me ligar à natureza e de superar os meus medos. No início estava aterrorizado, tinha medo do frio, do escuro, dos coiotes lá fora e era terrível não ter ninguém com quem falar durante semanas e meses - não tinha rede de telemóvel, por isso não podia ligar aos meus pais se me magoasse: foi realmente um momento de desenvoltura pura e isso nunca me tinha acontecido antes. De facto, em "Encabanée", queria contar sobre talvez o pior momento que passei, que é também o momento em que a sabedoria veio até mim.
Anne Hebert ensinou-me que tínhamos o direito de escrever 'Quebecois', de assumir os nossos sotaques, as nossas expressões, coisas que na universidade eram descritas como barbarismos ou regionalismos. Ora, para mim, são pérolas. Nessa cabana, eu própria me dei o direito de ser cem por cento eu mesma, pôr-me a nu, porque ousar enviar um manuscrito com um registro diferente, um manuscrito que não está no francês padrão, era embaraçoso, mas no final é isso que o torna tão encantador: ouve-se a minha voz e fiquei muito contente por me deixarem ficar com a minha cor.
tradução minha daqui
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