January 24, 2021

JMT - como se costuma dizer, más agulhas fazem más costuras

 


Fui dar com este texto do JMT na página de um amigo, no FB. JMT sabe que pode estar infectado com Covid-19 mas pensa que a maneira de amar a liberdade e a democracia consistem em sair por aí e infectar outros, como vingança de o governo e as estruturas responsáveis serem incompetentes e não terem acautelado o voto dos que estão em isolamento profiláctico. De onde percebemos que, se ele fizesse parte do governo, seria um irresponsável como os outros.

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Os meus amigos que frequentam o Twitter disseram-me que vai por lá um grande entusiasmo acerca das minhas declarações no Governo Sombra de ontem, onde referi não saber se iria votar ou não no domingo, estando eu no final do isolamento profiláctico.
Como foi uma pergunta de passagem, não expliquei o que estava em causa, e devê-lo-ia ter feito. E como sou uma figura semi-pública, talvez valha a pena partilhar com os interessados os fundamentos das minhas dúvidas.
O que se passou foi isto.
Um grande amigo da família (foi só um, não se assustem) jantou em nossa casa no dia 13, e avisou-nos, no final da tarde do dia 15, que tinha contraído covid. Quando eu soube, já não podia pedir que me trouxessem uma urna a casa, nem podia votar a 17, até porque não tinha feito o teste, que fiz exactamente no passado domingo (deu negativo).
Portanto, eu - e muitos como eu - sou um pobre cidadão que está em isolamento profiláctico há 10 dias e efectivamente impedido de votar, já que o Estado português não providenciou qualquer alternativa para casos semelhantes. Se não se importam, isso chateia-me, e muito.
Não aprecio a facilidade com que se aceita esse impedimento. Em primeiro lugar, porque a probabilidade de eu estar infectado é muito baixa (ninguém cá em casa tem sintomas, temos dois testes negativos e o isolamento termina na quarta-feira). Em segundo lugar, porque a probabilidade de infectar alguém, saindo à rua sem sintomas e devidamente equipado, é muitíssimo baixa.
Portanto, há dois valores em causa. 1) A minusculíssima probabilidade de infectar um terceiro inocente. 2) O meu direito constitucional ao voto. Mas há ainda mais isto: a indignação perante a forma como o Estado acha que a saúde pública é o bem supremo, diante do qual todos os outros direitos têm de ceder, excepto quando se trata de actividade partidárias ou políticas, que essas podem continuar sem problemas e com gente aos magotes, porque a Constituição o exige.
E a Constituição não exige que eu possa votar?
A maior parte das pessoas ouve isto, come e cala. Parece que a coisa nem se discute. Afinal, é a lei! Pois eu acho que se discute. É a minha costela semi-anarquista, se quiserem. Tenho muitas dúvidas que a lógica deva ser essa, e não tenho nenhumas dúvidas acerca do desrespeito que o Estado está a votar aos cidadãos que não podem votar. Não gosto. É péssimo. E é significativo dos tempos que vivemos.
Portanto, há um dever de resistência diante daquilo que considero ser um abuso por parte do Estado, que se coloca muito claramente nesta situação. A minha reflexão continua, de forma ponderada, até porque há pessoas à minha volta cujas opiniões levo em conta.
Mas ao pessoal que adora sentir-se super-virtuoso a partir dos seus sofás, disparando grandes sentenças através das falangetas, tenho apenas a dizer isto: um bocadinho menos de carneirice e um bocadinho mais de amor à liberdade e à democracia fariam maravilhas por este país.

2 comments:

  1. Se pegarmos na atual (redutora) distinção entre Esquerda e Direita, terei de dizer que sou da segunda, isto é, da área oscilante entre o CDS e o PSD.

    Valha a verdade que me daria algum gozo que o Ventura ficasse em segundo logo à noite, só para ver estrebuchar o PC e o BE (aqui, reconheça-se, estou quase ao nível do JMT). Depois, nas próximas legislativas, era só reduzi-lo à meia dúzia de lunáticos perigosos que o sustentam.

    Dito isto, quanto mais conheço as «figuras públicas» de Direita, concretamente as afetas ao nosso partido liberal (o do Cotrim) - refiro-me ao JMT, ao Carlos Guimarães, ao Alberto Gonçalves, ao Henrique Raposo, etc., etc., etc. - mais me sinto um deserdado político.

    Como é possível olhar à minha volta e não reconhecer lugar nenhum onde me possa «acolher»? O problema é meu.

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  2. Não me dava gozo nenhum ver o Ventura em segundo lugar e essa perspectiva ser realista só mostra o estado miserável da nossa vida política.

    Preferia que os partidos evoluíssem democraticamente em vez de estrebucharem. Precisamos de partidos políticos adultos e democráticos.

    Os números da abstenção nas eleições mostram que a maioria dos portugueses não se revêem em nenhuma força política.

    Eu também não reconheço lugar nenhum onde me possa «acolher»...

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