December 09, 2020

Pequeníssimo conto de Natal - o encantador de mulas

 


- Mas que se passa aqui? Pergunta o S. José à Nossa Senhora.

- Uma confusão! Estamos a querer escolher um burro para a fotografia do presépio e não é possível porque todas as mulas querem ficar na fotografia. Já acordaram o menino e tudo! Não há paciência!

- Já sei o que fazemos: chamamos o encantador de mulas.

- Quem é esse?

- É o senhor T. (tolinho) 

- Ah, aquele burro que tem a mania que é inteligente?

- É esse mesmo. Dizem que não há melhor para falar às mulas. Entendem-se uns aos outros.

(Passado pouco tempo chega o senhor T., encantador de mulas, a dar à cauda.)

- Então qual é o problema para eu resolver?

- Estás a ver aquelas mulas? Desde manhã que escoceiam para ficarem todas na fotografia do presépio, mas só temos lugar para uma.

- Vou já resolver isso!

(O senhor T. aproximou-se do grupo das mulas. Contou quatro: o J.C. (jumento casto); o C. (cabriolices); a M.C. (menina cândida); o S.S. (sorrisos sonsos).

- Mas o que é que se passa com vocês?

- Queremos aparecer na fotografia para a posteridade.

- Nem pensar! Quem vai fazer de burro sou eu! _ disse o senhor T.

- Essa é boa! Mas porque é que hás-de ser tu? Perguntou o S.S.

- Porque sou o chefe!

- Mas porque é que hás-de ser o chefe?

- Porque sou burro! Não sou um híbrido como vocês! Não, não. Sou burro puro!

Eles pareceram ficar mais ou menos convencidos, excepto o senhor J.C: mas olha lá, quem és tu para dizer que és burro puro?

- Sou o chefe! Ora, essa! 

- Não sei... vozes de burro não chegam ao céu... mas pronto, está bem... mas fico chateado, porque já me estava a ver na fotografia para a posteridade. Afinal, quem trabalha aqui sou eu, diz o senhor J.C.

- QED - trabalhas porque a mim cabe-me escocear, como burro que sou... diz o senhor T.

- Então deixa-me fazer de menino Jesus. Ele também é J.C., eu sou o Salvador como ele, vem a calhar.

- Para fazer de menino também quero, diz o senhor S.S. Afinal eu é que sou ubíquo.

- Bem, a mais pequenina para caber na manjedora sou eu, diz a menina M.C.

- A menina cale-se, diz o senhor T. Está aqui para aprender a ser burra. Não é de um dia para o outro que se fica um belo burro como eu.

- Vocês estão a esquecer-se de mim que sou um santinho, diz o cabriolices.

- Epá, tu esconde-te atrás de um pastor para ver se ninguém repara em ti. (queres ver que ainda é mais burro que eu? -diz o senhor T. com os seus botões)

- Acabou-se a conversa, diz o senhor T. Vocês são todos ovelhas ali da Virgem que está caladinha que nem um rato mas foi quem arranjou este embróglio... O burro aqui sou eu e vou fazer par com o J.C. que vai fazer de vaca. Eu zurro para o ar e ele bafeja para o menino.

- Que nojo, diz a menina M.C.

- Cala-te, não vês que isto é tudo um nojo? -diz T. Manda chamar o fotógrafo da posteridade. Todos a sorrir com cara de animais. Um, dois, três, já está.

 

E assim se resolveu o problema dos animais do presépio.


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