November 11, 2020

The Queen’s Gambit

 



Esta série da Netflix, em meia dúzia de episódios, é muito boa. É sobre uma rapariga orfã que é um génio no jogo do xadrez. É descoberta, por acaso, por um contínuo ou zelador da instituição, um entusiasta e membro de um clube de xadrez, para onde ela vai, aos oito anos, quando fica orfã. 

Mais tarde, na adolescência, é adoptada e começa a entrar regularmente em torneios de xadrez. Na série ela joga nos torneios masculinos, o que na realidade não acontece pois as mulheres têm um campeonato à parte, por se considerar impossível que uma mulher possa competir com homens num jogo de inteligência e estratégia. Mas na série não é assim. Ela acaba por ser campeã nos EUA e ir jogar à Rússia contra o campeão russo.

O interessante na série é que não é, principalmente, acerca de uma mulher triunfar num jogo de homens. Aliás, praticamente todos os homens que ela conhece no âmbito do jogo a ajudam a ganhar conhecimentos e confiança para se tornar, primeiro campeã e depois para ir jogar à Rússia. 

Sim, esse tema também está presente porque vivemos num mundo onde é difícil uma mulher destacar-se em certas áreas. Por exemplo, a mãe adoptiva dela é uma pianista de grande talento que podia ter sido excepcional mas tinha medo do palco, era insegura e não teve ninguém que a encorajasse (porque as raparigas eram encorajadas a tocar para animar os salões, como entretém e mais nada) de modo que bebe demais e tem uma vida vazia. O marido nem percebe o valor dela. 

No entanto, a série não é sobre feminismo, mas sobre um certo tipo de sociedade mais solidária onde todos, sejam mulheres, homens, ricos ou pobres, têm lugar e suporte. Uma amiga que ela faz no orfanato, não é adoptada e percebe-se que é por ser negra. Por exemplo, a instituição onde ela vai parar não é miserável e tem uma boa educação; no filme, a certa altura, alguém lhe diz que os russos têm uma atitude no xadrez diferente dos americanos, porque em vez de competirem ferozmente uns com os outros ajudam-se, no pressuposto que um génio não se faz sozinho, desligado de um contexto de suporte que o reconhece e permite florescer. Isso é o que acaba por acontecer-lhe a ela que começou a vida com as piores desvantagens: os outros jogadores a quem vai ganhando reconhecem-lhe o valor e ajudam-na até ao limite a conseguir ganhar aos russos, o que era a sua maior ambição.

Ela é uma pessoa com problemas e vícios de anfetaminas e outras inseguranças, mas até isso, os amigos e uma amiga que lhe ficou do orfanato a ajudam a ultrapassar. 

A série está muito bem feita no que respeita à época -passa-se nos anos 60- mas acima de tudo é uma visão de um outro tipo de sociedade, mostra o que as coisas podiam ser e como seriam melhores do que esta sociedade de competição implacável que sacrifica estas pessoas que têm valor mas nascem no lado errado da vida e não têm os conhecimentos certos, para promover todos os medíocres com muito dinheiro (veja-se os trumps...) e destruir tudo à volta.


2 comments:

  1. Estou a seguir uma série da BBC que está a dar na RTP2, de manhã. Chama-se "O último tango em Hallifax" e é muito fixe!

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  2. vou tentar ler o que escreves e responder porque só vejo metade da realidade

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