Uma estátua invertendo o mito de Perseu que decapitou Medusa foi posta em frente do tribunal de Manhattan onde Harvey Weinstein está a ser julgado por crimes de violação. Intitulada, Medusa com a Cabeça de Perseu, a escultura de bronze com mais de dois metros, mostra a górgona das serpentes na cabeça com uma espada numa mão e a cabeça de Perseu na outra.
O trabalho do artista Luciano Garbati (2008) responde à, muito conhecida, escultura de Benvenuto Celline, Perseu com a Cabeça da Medusa, do século XVI, baseada no relato do mito grego, de Ovídio, em As Metamorfoses.
Segundo a lenda, Poseidon, o deus do mar, violou Medusa, uma donzela do templo de Atenas. Culpando Medusa pela contaminação do templo, Atena transformou-a numa górgona monstruosa capaz de transformar aqueles que a olhavam, em pedra. Mais tarde, o semideus Perseu decapitou a Medusa como parte de uma busca heróica.
A história de uma mulher declarada culpada e condenada pela sua própria violação é, infelizmente, de todos os tempos...
Na escultura de Celline, Perseu, ergue-se nu sobre o corpo da Medusa, segurando a sua cabeça como prémio de vitória. Como o próprio Garbati afirmou em 2018, tendo visto a estátua em criança, levou-o a imaginar o reverso da sua dinâmica. Há muitas representações da Medusa mas são sempre desse lado perverso -disse- e isso levou-me a pensar, 'como seria a vitória dela em vez da dele e como devia a escultura aparecer?'
A estátua dele ganhou fama online depois da exposição dos crimes sexuais de Weinstein e da emergência do movimento #MeToo. Em 2018, uma imagem da estátua circulava na internet com o título, 'agradeçam que só queremos igualdade e não vingança.'
O fotógrafo de Nova York, Bek Anderson, lutou para levar a estátua para Manhattan e criou um colectivo artístico chamado Medusa With The Head (MWTH) com o objectivo de reenquadrar as narrativas clássicas. No ponto de vista de Bek Andersen, 'como pode haver triunfo quando se está a derrotar a vítima do crime?'
Nem todas as feministas gostaram. Para algumas, como Tessa Solomon, de ARTnews, faria mais sentido se Medusa fosse representada a decapitar Poseidon, o seu violador. Outras questionaram o valor de uma estátua de um artista masculino, ainda por cima representando uma mulher nua segundo a beleza convencional num local de tanta proeminência. O movimento #Metoo foi começado por uma mulher negra e não uma branca europeia, escreveram algumas.
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